Do "Diário da Manhã" há 76 anos: subsídios para a história da batalha ideológica


Há 76 anos, a 16 de Novembro de 1945, publicava o Diário da Manhã - Órgão da União Nacional - um expressivo suplemento suplemento de propaganda contra "as oposições", destilando, da primeira à última linha, um ódio visceral contra qualquer ideia de insubmissão ou revolta. 

Era o "Ano XX da Revolução Nacional", como orgulhosamente assinalava, nesse ano, o órgão de imprensa fascista, e a Europa estava já praticamente liberta do terror nazi-fascista, mas as fileiras do fascismo cerravam-se contra o "inimigo" comunista em Portugal e Espanha e jornais como o Diário da Manhã cumpriam fervorosamente a sua missão de propaganda, de incansável arauto da ideologia e de culto do chefe.

Entre as diversas citações panegíricas em louvor de Salazar e visando construir uma narrativa que em nada condizia com a realidade de miséria, atraso e repressão, anote-se esta, do papa Pio XII:

"O Senhor deu à Nação Portuguesa um Chefe de Governo que tem sabido conauistar não só o amor do seu povo, especialmente das classes mais pobres, mas também o respeito e a estima do Mundo."  
   
Fundado em 1931, o Diário da Manhã começou por ser republicano pró-Ditadura, tornando-se órgão da União Nacional, o partido único, vindo a ser suspenso em 1971, por fusão da sua Redacção com a de A Voz (católico, monárquico, pró-Ditadura, pró-Estado Novo, publicado entre 1927 e 1971), para dar lugar ao diário Época (*).

Surgindo com o primeiro número em 1 de Fevereiro de 1972 como órgão da então Acção Nacional Popular - a nova designação da velha União Nacional - o Época interrompeu a publicação em 26 de Abril de 1974, para ressurgir dois dias depois (28 de Abril, um domingo) com a a casaca virada.

Acrescentando o artigo definido a, A Época, passa a ser dirigida pelo até ali chefe de Redacção, José Manuel Pintasilgo, comemora "a vitória do Movimento do 25 de Abril", chegando a apresentar-se como "baluarte tomado ao fascismo". Apesar das alterações de adaptação à nova ordem, não resistiu: o último número saiu a 9 de Maio de 1974.

Curiosidade: A Redacção, administração e oficinas do jornal Época situavam-se na Rua da da Misericórdia, n.º 95, em Lisboa, onde tem sede nacional a Associação 25 de Abril, tendo o edifício sido recuperado e reconstruído segundo projecto do arquitecto Álvaro Siza Vieira.


(*) LEMOS, Mário Matos e, Jornais Diários Portugueses do Século XX: Um Dicionário, Ariadne Editora, Coimbra (2006)           

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