Da construção da utilidade do voto
"Inútil", disse o Doutor Rangel do voto no PS, numa entrevista concedida ontem à SIC. Calculo que nos próximos tempos comentadores encartados dedicarão uma parte do alvoroçado labor das suas delicadas meninges a glosar o novo conceito, elaborado por antonímia com o vulgar "voto útil".
Aguardaremos os contorcionismos semânticos e a ginástica argumentativa nas opinativas cabeças que enxameiam os media. Mas podemos ficar já com a certeza de que manterão a devota fixação na utilidade do voto, analisada na única perspectiva de sempre: a de que o voto só é útil quando endossado a uma ou a outra das duas formações alternantes, isto é, ora PS, ora PSD, e vice-versa.
Trata-se, na verdade, de uma obsessão pela estabilidade, da qual a alternância e a delimitação do "arco do poder" (em parte rompida com a solução de 2015...) são instrumentos vitais, estabilidade essa muito cara ao chamado "mundo empresarial".