Como o Governo britânico usou a Reuters no Médio Oriente

Um pequeno escândalo sobre os meandros e os objectivos de financiamento secreto da agência de notícias Reuters, nos anos 1960 e 1970, pelo Governo britânico, com o fim de influenciar os seus conteúdos em plena guerra fria, acaba de trazer nova luz sobre propósitos de instrumentalização de meios de informação que gozam de credibilidade global ao longo da História.
Segundo documento secretos do Governo britânico desclassificados recentemente, o Foreign Office (Ministério dos Negócios Estrangeiros) financiou durante vários anos a instalação e a actividade de uma delegação da agência privada no Médio Oriente, através da empresa pública de rádio e televisão - a BBC - , a pedido de uma antena de propaganda anti-soviética ligada aos serviços secretos, pomposamente designada Information Research Department (IRD), criada em 1945 e extinta em 1977.
De acordo com as próprias Reuters e BBC, que citam os documentos desclassificados, o dinheiro, destinado a "providenciar um apoio discreto do Governo ao serviço da Reuters no Médio Oriente e na América Latina", era entregue através da companhia de rádio e televisão, a título de reforço do serviço de notícias da agência.
A pedido do IRD, que produzia material anti-comunista, a Reuters concordou, em 1969, instalar um escritório no Médio Oriente, então em ebulição, para distribuir notícias, em inglês e em árabe, sobre acontecimentos locais e internacionais e destinadas a órgãos de informação da região.
Os novos escritórios foram substituir uma agência financiada e controlada directamente por aquele departamento de combate anticomunista, como criara noutros pontos, o Serviço Regional de Notícias (Médio Oriente), uma agência que, além de "não económica", não servia os propósitos pretendidos.
O Governo pretendia utilizar uma agência de notícias com créditos firmados no mundo, para contrariar a influência alegadamente exercida pelas "agências hostis ou semi-hostis", como a Agência de Notícias do Médio Oriente, baseada no Egipto, e a soviética Tass e mesmo a (concorrente) Agência France Press (AFP), o que requeria "um serviço objectivo e cuidadoso de qualidade".
Reagindo às revelações, a Reuters penalizou-se desse período e garante que desde 1984 um sistema de controlo das notícias garante a observância dos seus princípios de independência e que nenhum governo as influencia.

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