Como a extrema-direita ganha visibilidade
Numa sociedade e num tempo em que a mediatização da política
é mais feita do comércio de frases de efeito do que do escrutínio das
concepções, propostas e realizações, não é de estranhar a exploração do ruído
gerado por certos actores.
Com o anúncio da eleição de André Ventura como deputado à
Assembleia da República, bem se esboçou algum debate – e, antes mesmo, algumas
juras – , como se os media não
tivessem certas culpas no cartório, sobre como deveriam os jornalistas
abster-se de contribuir para a propagação das suas ideias marcadamente
xenófobas e para a agenda extremista do Chega.
O propósito de auto-contenção jornalística corria o risco de
excesso e facilmente cairia na armadilha da acusação de impulso censório, além
de não se ver como seria exequível o silenciamento de um parlamentar que, além
de fazer intervenções nessa qualidade, talvez viesse a fazer propostas.
Numa democracia que aconselha e obriga os órgãos de
informação ao dever do pluralismo, não teriam como justificar esse silêncio,
embora o mesmo os não preocupe quando um silenciamento quase de chumbo atinge
outras organizações.
Que fazer?
Tal como é suposto conformar-se a democracia mediática nos
termos da Constituição e das leis ordinárias, o mínimo justo a observar consiste
em assegurar a cobertura das actividades partidárias com verdade e rigor.
O problema da cobertura mediática dos partidos de
extrema-direita está em não explicar exactamente o que defendem e as
consequências do que propõem, deixando os cidadãos desprevenidos, assim como em ceder à tentação do soundbite, que choca muitos de nós mas nutre de simpatia hordas
pouco lidas e menos dadas à reflexão.
O combate político deve ser feito noutros terrenos, a
começar por defender e concretizar políticas públicas sociais, culturais e
económicas que tornem cada vez menos as horas de insatisfeitos e deserdados
que, à falta de reais melhorias nas suas vidas, mais disponíveis estão para os
discursos populistas, as promessas messiânicas e a gritaria que explora a
mesquinhez, a inveja, o ódio e a raiva aos outros.
Convém não esquecer os ensinamentos da História nem perder
de vista que está nas mãos dos democratas eliminar ou reduzir francamente as
causas e travar o passo ao fascismo.