Guaidó, o troféu de Trump e de Pelosi
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Juan Guaidó na galeria de convidados no Capitólio, ontem (imagem BBC) |
Sejamos claros: em qualquer país,
o facto de um cidadão conspirar com um estado estrangeiro para prejudicar a sua
própria pátria é considerado um acto de traição; e não podemos deixar de reputar
como extraordinariamente grave quando se apela à aplicação de sanções
económicas contra ela. Pois bem, é isso que o autoproclamado “presidente interino”
da Venezuela tem feito.
Juan Guaidó, “reconhecido” há um
ano pelos Estados Unidos da América (EUA) e por outros 50 países, Portugal
incluído, continua a ser o que estava combinado que fosse: um fantoche nas mãos
do presidente norte-americano, a ponto de ser exibido como um troféu na noite
do “discurso sobre o estado da nação”, na madrugada passada (hora portuguesa).
Num discurso destilando o
habitual e impune ódio contra Cuba e a Venezuela, Trump apontou à galeria dos
convidados mostrando aos congressistas “o legítimo presidente da Venezuela,
Juan Guaidó”, dando largas à ameaça de “esmagar o mandato de Nicolás Maduro” e
gabando-se das sanções que impõe a um país soberano.
Guaidó, se fosse um homem decente,
não estaria naquela galeria, ou teria forçosamente de abandoná-la perante as
palavras e as ameaças de um chefe de estado estrangeiro contra o seu próprio
país. Mas não é. Basta observar o seu ar embevecido e verificar como a lisonja
de pacotilha lhe enche a alma, como se vê neste
extracto da BBC.
A imprensa venezuelana, mesmo
aquela que é crítica de Nicolás Maduro, ou mesmo a que é militantemente contra
Nicolás Maduro, não poderia deixar de andar alarmada com o frete indecoroso que
Guaidó faz à Administração americana e de, pelo menos, distanciar-se criticamente,
de uma conduta deplorável. Mas não: El
Nacional celebra o êxito da jornada. “Guaidó
foi recebido na Casa Branca com honras de chefe de Estado”, exulta.
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Antes mesmo de Mike Pence, Nancy Pelosi saúda entusiasticamente Guaidó (imagem BBC) |
Voltemos ao Capitólio. Foi
notícia de escândalo mundial o facto de a presidente da Câmara dos
Representantes, Nancy Pelosi, do Partido Democrático, ter rasgado o discurso à nação de Donald Trump,
como se fosse um gesto de total e definitiva ruptura com o seu conteúdo. Não
foi. Houve momentos em que o aplaudiu. E foi ela a levantar-se, antes mesmo do
presidente do Senado e vice-presidente dos EUA, Mike Pence, para juntar-se ao “número”
de Trump a exibir Guaidó. E, com ela, muitos eleitos do Partido Democrata,
levados quase ao delírio. No fundo, são todos iguais.