Cálculo matemático aplicado ao jornalismo. Ou, "é só fazer as contas"

Em tempos que já lá vão, o antigo primeiro-ministro António Guterres (ou ainda seria só líder do PS, já não me recordo) foi apanhado na ratoeira do jornalismo que pede números, estatísticas e percentagens por tudo e por nada. Em falando sobre a necessidade de reforço do orçamento da Educação, enunciou, se bem me recordo, uma determinada percentagem do Produto Interno Bruto (PIB).
Ágil como uma rapace, um repórter perguntou-lhe quanto é que isso representaria em termos de moeda - ao tempo, suponho que ainda em milhões de contos. Atrapalhado entre mil coisas em que pensar, Guterres, engenheiro de formação, arriscou fazer os cálculos, de cabeça, ali mesmo, entre a turba apressada de jornalistas e as pressas da deslocação. Como é sabido, a coisa deu para o torto: engasgou-se, errou e rematou com a célebre frase "enfim, é só fazer as contas".
Tem-me ocorrido muito este episódio, que sempre tive como compreensível em situações de pressão como aquela, a propósito do colossal disparate que tem sido repetido, anteontem, ontem e hoje, sobre o aumento da Taxa Social Única (TSU) para os trabalhadores anunciado pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, na sua comunicação ao país, ao entardecer de sexta-feira passada.
O (roubo) que o primeiro-ministro anunciou, no que tange à TSU, traduzir-se-á, se não for travado, num aumento de sete pontos percentuais em relação aos 11% que os trabalhadores pagam agora, ou seja, passa para 18%. Note-se: sete pontos percentuais e não, como se tem dito e escrito por aí (basta fazer uma busca na Rede...), sete por cento. Porque, na realidade, o aumento percentual é de 63,6% !!! e não de... 7%.
De facto, como temos de calcular o aumento percentual sempre a partir do número de partida, teremos  

                                                                          7   
                                                                        ___ X 100 = 63,6%

                                                                         11      

Vamos a um exemplo prático. Imaginemos o trabalhador Pedro Passos Coelho, que aufere, por hipótese, mil euros por mês. À taxa de 11%, paga 110 euros de TSU. Se, como o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho anuncia e nós deixarmos,  a taxa passar efectivamente para 18%, ele terá de pagar 180 euros. Assim, a diferença será de mais 70 euros, que correspondem a um acréscimo de 63,6% sobre aqueles 110 euros, pois

                                                                         70
                                                                       ____  X 100

                                                                        110

Estou certo?
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