15.09.12: que fazer com estas manifestações?



1. As manifestações realizadas ontem em dezenas de cidades do país representaram uma gigantesca expressão de protesto e de indignação com a violenta espiral de recessão que empobrece Portugal, destrói a economia, lança para a pobreza e a miséria largos milhares de portugueses, definha a esperança e condena o futuro de gerações.
Mas, para que os protestos se transformem em luta e a luta seja consequente, é necessário se consequente com os protestos: a luta não acabou ontem à noite; está em marcha e vai continuar. O dia 15 de Setembro não terá significado sem o dia 29 de Setembro e sem os dias que se lhe seguirão.
2. Muitos esforçam-se em destacar, mais uma vez, o carácter “não partidário” e “não sindical” das manifestações de ontem – uns na ingénua suposição de que é esse o caminho do “aprofundamento da democracia” e das “novas formas de participação”; outros em continuado preconceito contra os partidos e os sindicatos; outros em cruzada mais ou menos confessa contra as organizações democráticas por motivos consabidamente inconfessáveis; e uns últimos desiludidos com experiências negativas e iludidos com alternativas ilusórias. Como se o povo não partidário e o povo não sindical fosse o dono das ruas e das praças com legitimidade exclusiva, houve quem ocultasse, condenasse ou criticasse a participação de destacados militantes e dirigentes partidários e até deputados.
Apesar da ausência de “bandeiras” (exigida?, necessária?...), as manifestações mostraram que a unidade pode ir sendo construída nas ruas e nas praças e que amanhã uma plataforma de reivindicações e objectivos claramente assumidos tornará possível que cada um se exprima sob o estandarte do seu colectivo ou vendo respeitada a sua individualidade.
3. O Governo está cercado, pelo povo, nas ruas (dia 29 de Setembro, lá estaremos!); por destacadas personalidades dos próprios partidos que o suportam, na imprensa, nos salões e reuniões; e pelo presidente da República que convocou finalmente o Conselho de Estado. É evidente que o Governo e a maioria parlamentar não aguentarão por mais tempo se não mudarem de políticas e que nas suas hostes já há clarins a tocar a retirada.
Mas é necessário que não fique tudo na mesma e que não se insista no ciclo do castigo alternante: sancionar os que lá estão agora com a entrega do poder aos que lá estiveram antes nada muda. Mas há alternativas reais e outro rumo é possível.

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