Guerras e jornalismo: e que tal se o público pudesse tirar as suas conclusões?

Os dados publicitados diariamente pelo presidente, pelo ministro da Defesa e pelos comandantes ucranianos sobre localidades conquistadas, objectivos militares capturados, áreas sob controlo, baixas entre as tropas inimigas e destruição de meios de combate russos são tão válidos como os dados divulgados pelo ministro e pelos comandantes russos sobre os danos infligidos às forças ucranianas.

Que se saiba, não há nenhum mecanismo independente de verificação, pelo menos em tempo útil, que permita validar as informações dos dois lados. Nesta situação, como em todas as outras em curso, ou pretéritas, ou futuras, no Mundo.

Por isso, o exercício jornalístico mais honesto consiste em divulgar de forma equilibrada as informações de ambos os contendores, referenciando de forma clara as fontes das informações, sem nunca esquecer o período e o âmbito geográfico a que se reportam.

No entanto, não é isso que encontramos nos meios de informação dominantes (agências noticiosas, jornais, rádios e televisões, nacionais e internacionais), que se dizem independentes, mas privilegiam essencialmente os dados e a narrativa unilateral de Kiev, em detrimento do “outro lado”, geralmente omitido ou tratado de forma muito parcial.

Em fragrante contraponto ao aparelho mediático dominante, a agência russa de notícias Tass apresenta hoje números que talvez também valha a pena considerar e outros dados sobre a situação no terreno que provavelmente ajudariam e ter uma visão complementar sobre a realidade.

É sintomático que especialmente as televisões – e em particular a RTP, Serviço Público de Televisão – reproduzam, todos os dias, de manhã à noite, acrítica e devotamente, os vídeo-comunicados de Volodymyr Zelensky, fazendo de conta que não se trata de propaganda pura e dura e dando cegamente como certas todas as afirmações que faz.

Não se trata de considerar mais justa a guerra deste do que a guerra daquele. Trata-se de fornecer aos leitores, aos ouvintes e aos espectadores elementos tão “objectivos” e imparciais quanto possível, para que possam tirar as suas próprias conclusões.

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