Papa contraria silêncio e critica proibição de igreja ortodoxa na Ucrânia
O
Papa Francisco criticou ontem a proibição, pelas autoridades ucranianas, da
presença de comunidades ortodoxas ligadas ao Patriarcado Ortodoxo de Moscovo, numa
atitude que contraria o silêncio generalizado da chamada comunidade
internacional em relação à violação da autonomia das confissões religiosas e
das igrejas.
“Nas
igrejas não se toca”, afirmou, na habitual alocução dos domingos, após a
recitação da oração do ângelus. “Deixemos que aqueles que querem rezar, rezem
naquela que consideram ser a sua Igreja”, exortou.
“Por favor, que
nenhuma Igreja cristã seja abolida, direta ou indiretamente”, prosseguiu o
chefe da igreja católica, numa referência expressa à proibição aprovada no dia
20 pelo parlamento ucraniano, do qual estão banidos partidos de oposição.
O diploma,
promulgado no dia seguinte pelo presidente Vlodomyir Zelensky, proíbe a
presença no território de comunidades ligadas ao Patriarcado Ortodoxo de
Moscovo, sob a acusação de apoiarem a “agressão armada” russa.
Amplamente
divulgada pelos meios de informação dominantes, a medida não provocou qualquer
comoção ou contestação na chamada comunidade internacional, nem foi condenada a
ingerência do poder político nas opções religiosas dos ucranianos.
Apoiada
pelo Conselho Ucraniano das Igrejas e Organizações Religiosas, cujos
dirigentes se reuniram na sexta-feira com Zelensky, a medida é criticada pelo
Papa, que expressou receio “pela
liberdade daqueles que rezam”.
“Aquele que reza
verdadeiramente, reza sempre por todos. Não se comete um mal porque se reza. Se
alguém comete mal contra o seu povo, será culpado por isso, mas não pode ter
cometido um mal porque rezou”, vincou.
Mais de metade dos ucranianos fazem parte da Igreja Ortodoxa, que
está dividida em dois patriarcados. Em
janeiro de 2019, o patriarca ecuménico de Constantinopla, Bartolomeu,
reconheceu a Igreja na Ucrânia como “autocéfala” (independente), uma decisão que
levou o Patriarcado de Moscovo a romper relações com Constantinopla.