O que esperar realmente de Joe Biden?


 
A esta hora, já não há dúvidas de que o senador democrata e ex-vice-presidente dos Estados Unidos da América Joseph (Joe) R. Biden Jr. já tem assegurados mãos do que os 270 grandes eleitores que vão compor o colégio eleitoral que, no estranho sistema eleitoral norte-americano, vai dizer a última palavra sobre a eleição do próximo presidente dos EUA.

Descansem as alminhas mais receosas que foram na cantiga do Presidente cessante e o mais boçal e primário chefe de Estado que alguma vez se sentou na Casa Branca: não, Joe Biden não é um perigoso esquerdista que se prepara para implantar o Socialismo nos Estados Unidos.

Tirem também o sentido os que, dizendo-se de esquerda, supõem que, com Biden – o conservador que os barões e o aparelho do Partido Democrata tão zelosamente impuseram como escolha nas primárias – algo de essencial mudará na Administração norte-americana.

Mudará sem dúvida o estilo bacoco, aflitivamente inculto e burro, belicoso e fanfarrão, a retórica xenófoba e supremacista, a homofobia e a misoginia e todos os tiques da criatura que durante quatro anos ocupou o cargo mais poderoso.

Mudará, já agora, algo de fundamental em relação à desastrosa e negacionista gestão da pandemia de covid-19, alguma estética na abordagem à imigração e à saúde, às minorias e à indústrias poluentes (não, Biden não quer que os capitalistas americanos percam a corrida da economia “verde”!).

Ah!, mas não mudará nada de essencial em questões como o direito à saúde. O famoso Obamacare que ele promete salvar das patifarias da tropa republicana não passa de um estratagema para financiar os seguros de saúde, continuando a privar os cidadãos americanos de um serviço nacional de saúde – universal e gratuito

Talvez mude o estilo diplomático nas relações com o mundo e as organizações internacionais, talvez a política externa se amolde mais a uma realidade multipolar onde outras potências e blocos. E seguramente os negócios nas chancelarias readquirirão o nível e a polidez da era pré-Trump.

Mas não percamos de vista uma realidade imutável: no plano internacional, Biden não deixará de cultivar a agenda comum a todas as administrações norte-americanas, reafirmando a “liderança mundial” dos EUA, pretendendo impor as suas noções de democracia aos países que lhe escapam ao controlo e jurando defender “os interesses vitais” dos Estados Unidos, inclusivamente no plano extraterritorial.

Aguarda-se com muito interesse a Cimeira das Américas que organizará no próximo ano e as abordagens que fará às realidades em transformação na América Latina – em particular a recuperação da Bolívia progressista e o futuro da Venezuela.

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