Suicídios e media: regresso à pergunta

A pergunta é antiga e houve tempos em que parece ter havido uma resposta consensual: devemos noticiar os suicídios? Em regra não, porque o exemplo do êxito pode motivar outras pessoas com "tentações" suicidas; a excepção deve muito bem ponderada e justificável aos olhos dos leitores.
A pergunta volta a fazer sentido. Ainda ontem, uma mulher lançou o filho de uma janela de hotel e lançou-se ela, depois, acompanhando-o na morte. Os jornais de hoje publicam pormenores suficientemente abundantes para serem suficientemente explícitos quanto ao drama. E repetem outros casos - um no passado dia 25; outro em Dezembro passado; outros cinco no ano que passou - de morte de crianças pelas mães, que põem termo à vida também elas.
Um deles - o "Público" - enfatiza o problema no título com uma pergunta: "Há mais uma criança morta pela mãe. Será que os media estão a ajudar?". Dando a voz, no corpo de notícia, ao psiquiatra Nuno Gil, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Suicidiologia, responde: a cobertura mediática "pode funcionar como um precipitante".
Seguramente que o propósito de noticiar este caso e de recordar os casos é mais o de por-nos a pensar no desespero que atormenta tantas mulheres, certamente agravado pela crise económica e social que lança tantas e tantas famílias na amargura e na desesperança. Mas a pergunta não pode deixar de interpelar as nossas consciências: devemos noticiar?
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