Sindicalismo e Media - algumas reflexões


A convite do Sindicato dos Enfermeiros, que está a assinalar o 100.º aniversário da Associação de Classe dos Enfermeiros de Ambos os Sexos do Porto, precursora do SE, participei hoje num interessante debate sobre “Sindicalismo e os Media”.
Além da abordagem introdutória às funções dos Media – e dos jornalistas – e dos sindicatos no sistema democrático, discorri sobre os problemas de fundo da imensa lacuna colectiva na educação para a cidadania e a participação.
Procurei reflectir sobre a responsabilidade dos Media na formatação ideológica, na formação e consolidação dos preconceitos, do individualismo, do consenso implícito e da submissão à lei da inevitabilidade.
Discorri ainda sobre as representações dos sindicatos (e das empresas e organizações patronais) nos Media; a claríssima insuficiência da cobertura regular da actividade dos sindicatos versus as erupções ocasionais do interesse mediático; a ausência de espaços noticiosos permanentes sobre trabalho e sindicalismo; a desvalorização do discurso sindical em oposição ao discurso patronal; e os gravíssimos riscos da mensagem da dispensabilidade dos sindicatos.
De passagem, e a pretexto do crescente preconceito contra os sindicatos e os partidos e da galopante tendência para fazer repousar nos movimentos espontâneos e inorgânicos a esperança messiânica da salvação da democracia, chamei a atenção para o que me parece constituir um gravíssimo risco para a democracia: a ideia de que a alegada falência da representação democrática dos cidadãos e dos trabalhadores pode bem ser compensada por tais movimentos.
Um dos aspectos essenciais desse risco reside no facto de, justamente pelo seu carácter inorgânico, tais movimentos não estarem sujeitos a qualquer espécie de escrutínio democrático – nem interno, nem externo – por maior que seja – e é muita – a simpatia de muitos por eles.
Escrutínio esse que é possível e é desejável em relação aos sindicatos, tanto pelos seus membros e representados directos como pelo pelos não-membros mas representados indirectos; assim como é possível e desejável em relação aos partidos.
Importa notar, reafirmar e sublinhar que isso não significa que não devemos defender e valorizar o exercício da liberdade de expressão e de manifestação ou o direito dos cidadãos a organizar a sua resistência como acharem que é melhor. Pelo contrário.
E, a propósito da alegada e perigosa ideia da dispensabilidade dos sindicatos, recordei que tal tendência tende a afirmar-se precisamente numa altura em que os patrões e as suas organizações estão hoje talvez mais fortes do que nunca e que os seus interesses, tal é o seu poder, estão francamente protegidos pelo poder político.
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