Feliz Natal, senhor dr. Vítor Gaspar


Nesta entrevista do ministro das Finanças, Vítor Gaspar, à "Revista Única" do "Expresso" de ontem, lê-se 
Os seus colaboradores habituaram-se aos seus horários?
Os horários são muito particulares. Eu começo a trabalhar muito cedo

O que quer dizer com muito cedo?

Quando estou sob pressão, quando tenho um conjunto de tarefas extenso para desempenhar, começo efectivamente cedo, por volta das cinco da manhã.Trabalho um par de horas. Por volta das 7h15 venho para o Ministério, onde chego por volta das 7h30. Procuro trabalhar até por volta das oito da noite, um voto que não sou capaz de cumprir todos os dias, mas, enfim, são os ossos do ofício. Quando estou menos pressionado, não trabalho antes de vir para o Ministério.

Abdicou praticamente de tudo o que é a vida pessoal e familiar?

A exigência é grande e o tempo que passo com a família reduziu-se bastante (...)

Confesso que este discurso - simpático e fácil - do sacrifício pessoal dos altos cargos me incomoda. O que parece extraordinário corresponde afinal ao esforço de dezenas de milhares ou centenas de milhares de pessoas que, todos os dias, se levantam tão ou mais cedo do que o madrugador ministro e chegam a casa e se deitam tão ou mais tarde (especialmente as mulheres, vergadas à lida da casa até altas horas), têm jornadas de trabalho muito duras, tempos e condições de transporte violentas e nenhuma esperança de que essa "missão" seja transitória. Levam décadas e décadas desse sacrifício, que o ministro Gaspar contribui todos os dias para tornar mais penoso, e estão em risco de ter uma vida ainda mais sacrificada do que a que têm.
Pense nisto senhor dr. Vítor Gaspar. E, já agora, tenha um feliz Natal.
(Corrigida às 19:20)
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