Espanha: retrocessos e anacronismos


A vice-presidente do governo espanhol - a pelos vistos muito poderosa e de fidelíssima confiança Soraya Sáenz de Santamaría - anunciou hoje que o novo primeiro-ministro, Nariano Rajoy, vai mesmo cumprir a sua palavra e fazer regredir Espanha, revendo a lei da interrupção voluntária da gravidez, em vigor há menos de ano e meio.
Ao ler a notícia, não pude deixar no significado profundo da media simbólica anunciada, no retrocesso que ela traduz e no anacronismo das posições que a enformam. E, em pensando em anacronismos, não pude deixar de recordar-me do ritual - tão anacrónico como incompreensível - da posse do chefe do governo.
Justamente, ainda ontem o diário espanhol "El País" publicava uma expressiva fotografia de Rajov prestando o seu juramento diante do rei de Espanha e de um crucifixo sobre uma mesa ladeado por um exemplar da Constituição e por outro da Bíblia, imagem essa que sintetiza com eloquência esse anacronismo em dois elementos centrais - o regime monárquico e a Igreja Católica.
Estando Espanha tão disponível para discutir valores de civilização, segundo pretende a D. de Santamaría, eu proponho, como vizinho e amigo de várias autonomias que aspiram à sua justa independência, que se discuta precisamente a Coroa e a Igreja. Se isso não for incómodo para Sua Senhoria, claro.
Agradecido.
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