a propósito de contingências informáticas

Computador no lixo

Eis um computador
no lixo. E todavia
o crânio de lata teve memória dentro
- gigabytes dela! -,
aceitou versos
no seu imaculado
branco virtual.

Agora já não soma
nem subtrai,
nem geme poemas, nem sublinha
erros de ortografia.
Os pingos de solda, precários
metálicos neurónios,
perderam a memória.

Já que te emancipaste,
companheiro,
diz-me como é não funcionar.

E se a ferrugem dói.

(A. M. Pires Cabral, "Como se Bosch Tivesse Enlouquecido", 2004, compilado em "Poemas Portugueses - Antologia de Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI", Selecção, organização, introdução e notas de Jorge Reis-Sá e Rui Lage, Porto Editora, 2009)

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