Na despedida de Eça de Santa Cruz do Douro
A Fundação Eça de Queiroz está a promover,
em Tormes, um fim-de-semana de homenagem ao grande escritor que, tendo visitado
apenas três (ou quatro) vezes a Quinta de Vila Nova, em Santa Cruz do Douro,
concelho de Baião, a imortalizou e a colocou definitivamente na rota da
literatura e da cultura queirosianas.
Neste sábado, a Casa de Tormes,
que em 1892 coube em partilhas a sua mulher, Emília de Castro, e que assim veio
a ser chamada por Eça ter recriado a quinta no romance A Cidade e as Serras
(edição póstuma, em 1901), esteve aberta à visitação gratuita, mas guiada,
expondo um conjunto de peças nunca mostradas ali, umas, e raramente patentes,
outras.
De entre as peças temporariamente
cedidas pelo Arquivo Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros,
destaque para o relatório de José Maria Eça de Queiroz, enquanto cônsul de
Portugal em Havana, sobre as condições desumanas em que eram explorados os
trabalhadores macaenses na Cuba esclavagista de então.
Para a ocasião, a biblioteca foi parcialmente
reorganizada de modo a apresentar nas estantes as primeiras edições das obras
de Eça de Queiroz, incluindo as que primeiramente foram publicadas em
fascículos.
Sobressai aos olhos do visitante –
ou aos meus, por ser da minha predileção especial – A Tragédia da Rua das
Flores, publicada apenas em 1980, isto é, 80 anos após a sua morte (16 de
Agosto de 1900), ao que julgo saber contra a vontade da família, e que em boa
parte corresponde a uma primeira versão de Os Maias (1888), ainda que
com uma trama dramática distinta.
(O volume exposto é o da edição
da Moraes Editores, com fixação do texto e notas de João Medina e A. Campos
Matos, mas há uma outra, com texto fixado e anotado por Mascarenhas Barreto, dada
à estampa na mesma altura pela editora «Livros do Brasil» Lisboa.)
Ao final da tarde, decorreu um
momento de evocação da vida e obra do escritor, do papel de Tormes na literatura
e na geografia queirosiana e do conturbado processo de exumação e trasladação
dos restos mortais de Eça do cemitério de Santa Cruz do Douro para o Panteão
Nacional, em Lisboa.
Discursaram o presidente da
Fundação, Afonso Reis Cabral, do coordenador do Grupo de Trabalho da Assembleia
da República para as Honras de Panteão Nacional, Pedro Delgado Alves, o
presidente da Câmara Municipal de Baião, Paulo Pereira, e a ministra da Cultura,
Dalila Rodrigues.
Amanhã, entre as 9h30 e as 16h30,
a urna contendo os restos mortais de Eça de Queiroz estará em câmara ardente no
átrio principal da Casa de Tormes, onde os visitantes poderão prestar homenagem
antes da sua partida para Lisboa.
Na quarta-feira, dia 8, as cerimónias de Honras de Panteão Nacional decorrerão na Assembleia da República e no Panteão Nacional, entre as 9h30 e as 12h30.