Em solidariedade com o povo sarauí oprimido e com a resistência da Frente Polisário
Uma calorosa e fraterna saudação do Partido Comunista
Português aos participantes neste encontro, em particular às delegações à Conferência
Interparlamentar sobre o Sara Ocidental 2024.
Uma saudação fraterna e solidária especialmente à
Frente Polisário, legítima representante do povo sarauí que, em mais de meio
século de luta corajosa, resiste à ocupação de território do Sara Ocidental e
ao colonialismo e repressão pelo Reino de Marrocos.
O PCP apoia activamente a justa aspiração do povo
sarauí pelo direito à auto-determinação, pela autonomia e independência do seu
território e a exigência do cumprimento do acordo de 1991, que impõe a
realização de um referendo de acordo com as resoluções da Organização das
Nações Unidas, no respeito pela Carta das Nações Unidas e pelo direito
internacional,
A aspiração nacional do povo do Sara Ocidental e da
Frente Polisário inscreve-se num determinado e corajoso percurso de luta contra
o colonialismo espanhol e a ocupação ilegal por parte de Marrocos.
Esse percurso filia-se na já longa tradição de luta
pela emancipação e autodeterminação dos povos e de independência dos seus
territórios em todo o mundo – e em particular no continente africano – que o
PCP bem conhece e apoia desde há várias décadas.
No ano em que comemoramos os 50 anos da Revolução do
25 de Abril, que contribuiu para emancipação das colónias portuguesas e
reconheceu a luta dos movimentos de libertação que o PCP apoiou activamente,
renovamos o compromisso do nosso Partido na longa batalha contra o colonialismo
e pelo direito dos povos à auto-determinação, à soberania e às relações de
amizade e cooperação desinteressada entre os estados.
A par da tradição e da prática internacionalista do
Partido Comunista Português, devemos salientar a consagração daqueles
princípios na Constituição da República Portuguesa, cujo artigo 7.º estabelece
sem ambiguidades que Portugal:
“Rege-se nas relações internacionais
pelos princípios da independência nacional, do respeito dos direitos do homem,
dos direitos dos povos, da igualdade entre os Estados;
“Preconiza a abolição do
imperialismo, do colonialismo e de quaisquer outras formas de agressão, domínio
e exploração nas relações entre os povos;
E “reconhece o direito dos
povos à autodeterminação e independência e ao desenvolvimento, bem como o
direito à insurreição contra todas as formas de opressão”.
No
momento em que decorre esta conferência, 17 territórios não autónomos, de
acordo com a terminologia da Organização das Nações Unidas, continuam sob o
jugo colonial imposto por cinco países: o Reino Unido, que é “potência
administrante” de dez territórios; Estados Unidos da América (três); França
(dois), Nova Zelândia (um) e Marrocos (um).
Somadas,
as superfícies desses 17 territórios representam mais de 303 400
quilómetros quadrados e uma população total de mais de um milhão e setecentas
mil pessoas.
Ou
seja, uma área total equivalente a mais do triplo da área de Portugal
continental e uma população inferior em mais de um milhão de cidadãos à da Área
Metropolitana de Lisboa.
Os
menos atentos poderão perguntar que interesse terão esses territórios para as
potências que os ocupam e subjugam, dada a sua reduzida dimensão.
Mas
a verdade é que, apesar disso, guardam uma imensa riqueza que as potências
ocupantes se consideram no direito de explorar, procurando perpetuar a
apropriação ilegítima dos recursos naturais que pertencem aos seus povos.
Entre
esses territórios, destaca-se o Sara Ocidental – o último ainda ocupado no
continente africano –, subjugado desde 1976 pelo Reino de Marracos, após o fim
da colonização espanhola, numa superfície de 266 mil quilómetros quadrados,
onde vivem 612 mil habitantes.
Com
cerca de 1 110 quilómetros de costa, o Sara Ocidental dispõe de uma zona
marítima muito importante para a União Europeia, que tinha a operar na área,
até recentemente, cerca de 130 navios.
As
águas do Sara Ocidental representam cerca de 73% do total das capturas
marroquinas.
Sem
contar com as saídas ilegais através da Mauritânia, em 2022 foram exportadas, a
partir do Sara Ocidental para a Europa, 129 200 toneladas de pescado e 74
mil toneladas de tomate e melão, no valor global de 590 milhões de euros.
Além
das produções marinhas e agrícolas, Marrocos está a rapinar, há mais de 40
anos, os recursos minerais, especialmente os fosfatos, sal e até areia para
alimentar as praias das Canárias e a produzir a exportar energias renováveis,
apropriando-se dos lucros.
No
início de outubro, uma decisão definitiva do Tribunal de Justiça da União
Europeia, declarando nulos os acordos comerciais deste bloco com Marrocos, veio
confirmar a plena soberania do povo sarauí sobre os seus recursos e a
legitimidade da Frente Polisário para o representar para a negociação e
celebração de acordos deste tipo.
Como
o PCP já defendeu, nomeadamente no Parlamento Europeu, o que se impõe agora é a
suspensão das importações de produtos originários do Sara Ocidental; a
reparação dos prejuízos causados por essa importação ilegal; e o início de
negociações com a Frente Polisário, o interlocutor legítimo em nome do povo
sarauí como tal reconhecido pela ONU.
A
vitória judicial da Polisário junto da instância europeia coloca também em
evidência a necessidade urgente de concretizar o referendo pela missão nas
Nações Unidas que Marrocos não pode continuar a bloquear.
Viva
a Frente Polisário!
Viva
a luta do povo sarauí pela autodeterminação e independência do Sara Ocidental!
Viva
a luta dos povos pela sua emancipação!
Intervenção na Conferência Interparlamentar sobre o Sara Ocidental, em representação do Partido Comunista Português
Na foto, "furtada" ao meu camarada Bruno Dias, painel dedicado à solidariedade internacional com o povo sarauí, com representantes de parlamentos do Zimbabué, África do Sul, Argélia e do Sara Ocidental, a que tive a honra de presidir