A greve dos médicos do SNS ouvida numa clínica privada

Já vou falei várias vezes do meu amigo Manuel.
Encontrei-o há dias ensimesmado e cheio de ideias de reflexões profundas sobre o interesse laboratorial, para a Sociologia, dos espaços colectivos de Saúde (urgências hospitalares, salas de espera de centro de saúde, etc.), nos quais se vertem e decantam os mais variados problemas e as mais diversificadas e inesperadas angústias das pessoas.
Dá-se o caso de o Manuel andar a fazer fisioterapia numa clínica da especialidade que presta tal serviço tanto a doentes "da privada" como municiados do indispensável "P1" do serviço Nacional de Saúde. Atento e inquieto, anda contente como um grilo com a inesperada expressão democrática desses espaços, tal a variedade de personagens que tem conhecido, observado e minuciosamente registado ("tenho material em barda, menino!", exulta).
Voltei a encontrá-lo hoje, primeiro dia de uma fantástica greve dos médicos do SNS. Nem de propósito, disse-me o Manuel. E logo tratou de contar-me o caso da manhã, entre o desolado e o empolgado. Num primeiro instante, explicou-me, as terapeutas lá cortaram na casaca dos médicos, que, aqui-d'el-rei, faziam greve e deixavam os-coitados-dos-doentes-à-espera-deles-em-vão; num segundo momento, andavam a murmurar pelos cantos que afinal já têm mais um dia a menos nas férias, antecipando o novo Código do Trabalho. Deu-se o caso de a clínica ter decidido encerrar no Carnaval, mas descontou o feriado nestas férias.
Moral da história: suponho que um dia destes o Manuel estará a agitar as massas entre as terapeutas da clínica...
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