As obsessões e os cálculos de Portas

O discurso que o presidente do CDS-PP  fez, ontem, na Madeira, mostra mais do que um parceiro de coligação a demarcar-se da ameaça de generalização dos cortes nos subsídios de férias e de Natal que o primeiro-ministro fez, no primeiro comentário à declaração de inconstitucionalidade dos cortes aos subsídios dos trabalhadores da Administração Pública e do Sector Empresarial do Estado.
O discurso de Paulo Portas confirma a obsessão contra o Estado e os trabalhadores que o servem; e contra as empresas do sector público e os trabalhadores ao seu serviço. Declarando que não será com ele que “Portugal vai diabolizar a função pública”, ele alimenta realmente essa estratégia que há largos anos tem servido para retirar direitos a estes trabalhadores e afrontar os seus direitos.
E não colhe o argumento de que a culpa da dívida pública é do Estado para justificar o sacrifício dos rendimentos dos funcionários públicos e dos trabalhadores do sector público. Em primeiro lugar, porque é mais que sabido que dois terços da dívida externa que estamos a pagar com língua de palmo eram privados e não do Estado; em segundo lugar, e talvez mais importante lugar, porque não são os servidores do Estado nem os trabalhadores das empresas do sector estatal os responsáveis pela dívida do Estado.
Mas, sendo mais que certo que Portas jamais aceitará a tributação dos lucros e da riqueza nos termos em que têm sido muito justamente reclamados por vários sectores da sociedade, resta saber que “saída” vai oferecer em alternativa coerente com a “defesa” que diz fazer dos trabalhadores do sector privado e não o amarre à ameaça do chefe do Governo e do PSD.
Assim como é importante perceber que cálculos estará a fazer para demarcar-se a tempo do desastre que é este governo para tentar capitalizar alguma coisa e não queimar-se demasiado nas eleições que hão-de seguir-se mais tarde ou mais cedo…
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