O caso Rubiales/Jenni Hermoso: Era simples, não é?

O avassalador interesse mediático (vá lá saber-se as razões genuinamente interessadas e as razões obscuramente interesseiras) pelo caso do beijo forçado à jogadora Jenni Hermoso voltou hoje a ser agitado pela divulgação de um vídeo que, voluntária e conscientemente, ou involuntária e inconscientemente, introduz uma narrativa lúdica normalizadora do comportamento do presidente suspenso da Federação Espanhola da Futebol.

Percebe-se o alcance pretendido da coisa: no fundo, no fundo, aquilo é tudo uma galderice, Jenni Hermoso é mais cúmplice do que vítima e Luís Rubiales fez o que era suposto ser normal.

Não, não é normal, por muito que repisem na divulgação das aparentemente divertidas imagens da viagem de autocarro, nas quais as jovens atletas parecem não só condescender mas também apoiar o sucedido.

Poderia elaborar aqui sobre as múltiplas hipóteses sobre o que aconteceu (incluindo sobre o “êxtase”, o momento extraordinariamente efusivo do contexto, as fragilidades emocionais – e as correspondentes cedências – do momento da celebração (recordemos: a entrega do troféu e das medalhas à selecção feminina espanhola, acabada de ser sagrada campeã mundial).

Isso pode ajudar a explicar, para quem necessitar do arrimo dessa justificação, digamos emocional/hormonal, o beijo imposto por Rubiales a Jenni Hermoso. Mas está longe de justificar a jactância e sobretudo a arrogância machista e patronal do presidente suspenso da Federação Espanhola de Futebol.

Se se tratou de um momento de “fraqueza” e de emoção descontrolada de Rubiales, o presidente agora suspenso da Federação Espanhola de Futebol deveria ter apresentado imediatamente um pedido de desculpas público, arrependido e inequívoco.

Era simples, não é? 

O que torna absoluta e irrevogavelmente indesculpável é a sua soberba, ostensivamente documentada na sua intervenção na reunião extraordinária da Federação (ver aqui).    

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