Mais força aos trabalhadores!*
Esta nossa
jornada realiza-se em plena fase de arranque da acção nacional do PCP “Mais
força aos trabalhadores”, a qual, seguindo a orientação “tomar a iniciativa”
saída da Conferência Nacional do PCP de Novembro passado, anima e robustece o
compromisso do nosso Partido com os trabalhadores e o povo.
Envolvendo acções de contacto, de propaganda,
distribuições de documentos, reuniões, tribunas e outras iniciativas, esta
acção, que vai decorrer até Maio, visa intensificar a denúncia dos problemas
com que se defrontam os trabalhadores e que procura afirmar a importância do
trabalho e dos trabalhadores, promovendo a valorização dos seus salários,
horários, vínculos, direitos e condições de trabalho, assim como confirmar a
importância e o papel decisivo do PCP, dos seus militantes e amigos, tanto na
intervenção institucional, nomeadamente na Assembleia da República, como no
movimento sindical unitário, nos locais de trabalho e nas ruas.
Com esta iniciativa, como o nosso partido salienta em
nota divulgada há dias, “o PCP reclama mais força aos trabalhadores,
valorizando o seu papel único e insubstituível na sociedade e na produção da
riqueza, garantindo um maior peso dos salários e das pensões no rendimento
nacional, assegurando a sua intervenção na definição da legislação laboral,
defendendo o seu direito a organizar-se e intervir nas empresas e locais de
trabalho, para combater as injustiças, as desigualdades e a exploração”.
Assim, apontando o caminho da organização, da unidade
e da luta dos trabalhadores para defender, repor e conquistar direitos, o PCP
voltará a colocar no centro do debate, ao longo destes meses, para além da
exigência do aumento dos salários, enquanto emergência nacional,
- A redução do horário de trabalho para as 35 horas
para todos, sem perda de remuneração;
- A garantia de que a cada posto de trabalho permanente
corresponde um contrato de trabalho efectivo;
- A garantia de direitos e condições de trabalho, a
revogação das normas gravosas da legislação laboral, nomeadamente a caducidade
da contratação colectiva e a reposição do princípio do tratamento mais favorável
aos trabalhadores;
- O reforço dos direitos dos trabalhadores em caso de
doença ou desemprego;
- A Segurança Social pública e universal, a imposição
de preços máximos aos bens e serviços essenciais, designadamente alimentação,
habitação e combustíveis, combatendo a especulação; e
- A elevação dos direitos de maternidade/paternidade.
Trata-se de
medidas centrais que o nosso Partido defende e continuará a defender
activamente, apesar de, na discussão e votação das alterações à legislação
laboral, no âmbito da mal chamada Agenda do Trabalho Digno, que está prestes a
terminar na Assembleia da República, ter enfrentado a resistência cerrada do
bloco central dos interesses do patronato.
As propostas e as
posições do Governo e do PS, apoiadas em larga medida pelo PSD, cujas votações
indiciárias confirmam que estas forças estão realmente ao serviço dos interesses
patronais, mantêm obstinadamente as normas mais
gravosas do Código do Trabalho; impedem a reposição de direitos roubados aos
trabalhadores, como as compensações por trabalho suplementar ou os valores das
indemnizações; e barram o caminho a avanços civilizacionais, como salienta a
Declaração Política do PCP feita pelo nosso Grupo Parlamentar na passada
quinta-feira.
É o caso do regime da denúncia, sobrevigência e
caducidade dos instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho, uma arma
poderosíssima, usada pelo patronato para extorquir direitos, condicionar
negociações e impor condições desfavoráveis, designadamente em matéria de
horários e trabalho suplementar, e até acabar com a contratação colectiva, ou
pelo menos impedir as justas reivindicações salariais.
Ou o da chamada presunção da aceitação da decisão de
despedimento, mediante a aceitação do pagamento da indemnização, uma norma
iníqua num Estado de Direito Democrático que, face à situação de extrema
fragilidade – económica, psicológica… – em que o trabalhador despedido é
colocado, o impede de impugnar judicialmente a injustiça e a ilegalidade do
despedimento.
São apenas dois mas significativos exemplos de normas
indignas cuja revogação o PCP continua a propor, mas que PS e PSD continuam a
chumbar, numa activa convergência programática em políticas de direita, também
na área laboral.
Assim como, juntos, travam a redução dos horários para
as 35 horas semanais e sete horas diárias e as restrições à laboração contínua
e do trabalho por turnos, limitando-os às situações estritamente necessárias e
devidamente justificadas e com garantias de protecção da saúde dos
trabalhadores e do direito à articulação da vida pessoal e familiar com o
trabalho, propostas e defendidas pelo nosso Partido.
Camaradas,
Esta convergência
entre o PS e o PSD não surpreende, não é nova – é bem velha e revelha, como o
demonstram mais de quatro décadas de políticas de direita, independentemente
das maiorias de turno, inclusivamente em matérias com incidência e importância
local e regional, nomeadamente em relação ao distrito do Porto e da Área
Metropolitana do Porto.
Veja-se o que
aconteceu, por exemplo, em relação às mais de 400 propostas apresentadas pelo
PCP para o Orçamento de Estado deste ano, como aquela que visava o
desenvolvimento do Metro do Porto, e com incidência nomeadamente no concelho de
Gondomar, com a criação da linha de Valbom, com ligação ao centro de Gondomar a
partir de Campanhã, perspectivando uma ligação futura a Fânzeres, criando-se
assim um percurso circular com a linha Laranja.
A proposta do
PCP, que é positiva para o concelho e para a região, foi chumbada com o voto
contra do Partido Socialista, mas também com a cumplicidade pela abstenção do
PSD e de um dos seus sucedâneos – a Iniciativa Liberal.
Quanto ao fim das
portagens na ex-Scut, que penalizam severamente as populações da Área
Metropolitana do Porto, seria de esperar que o coro de críticas, aliás muito
justo, que amiúde escutamos nas salas das autarquias da região, ecoasse também
na Assembleia da República.
Mas não foi assim!
Perante a proposta do PCP, de abolição das portagens nomeadamente da A4, na
A28, na A28, na A29, na A41 e na A42, PS, PSD e IL votaram contra.
Mas o PCP não
desiste e obrigará os outros partidos a justificar as suas opões,
confrontando-os com a sua hipocrisia e dualidade de posições – uma nos órgãos
das autarquias; outra na Assembleia da República – e, na sexta-feira, entregou no
Parlamento cinco projectos de lei com vista à eliminação das portagens naquelas
mesmas ex-SCUT, mantendo-se firme na defesa dos direitos das populações à
mobilidade.
É também em
defesa determinada dos direitos e interesses das populações que o PCP se tem
empenhado na desagregação das freguesias agregadas por imposição do Governo
PSD/CDS e contra a opinião dos eleitos locais e dos cidadãos.
Trata-se de uma
tarefa que tem empenhado milhares de eleitos da CDU e de militantes do PCP nas
tarefas de mobilização das populações, recolha de dados e documentos e
preparação e discussão de propostas, de promoção da sua discussão nas
assembleias de freguesia.
Dos 163 processos
de desagregação entrados na Assembleia da República até ao dia 24 de Janeiro,
muitos são os que se devem ao impulso, à iniciativa, à mobilização e ao
trabalho empenhado dos eleitos da CDU nas assembleias de freguesia e das
organizações do Partido.
Mas também nesta
matéria se manifesta a hipocrisia e mesmo a mesquinhez do PS e do PSD, que
aprovaram, nas assembleias de freguesia nas assembleias municipais, as propostas
de desagregação, mas no Parlamento estão na prática a boicotá-las.
De facto, embora
caiba à Assembleia da República verificar apenas o preenchimento dos requisitos
legais nos processos, porque a decisão é política, foi aprovada, com os votos a
favor do PS, do PSD e dos dois sucedâneos da direita, com o voto contra do PCP,
a criação de uma chamada unidade técnica destinada a passar a pente fino todos
os processos, para apurar pormenores de natureza tecnocrática.
É o caso da
“viabilidade económico-financeira” das freguesias que regressam à sua condição
de freguesias independentes, como se alguma vez essa condição tivesse sido
posta em causa antes da agregação.
O PCP denuncia o
recurso a estes métodos e reafirma a sua determinação de contribuir para
reparar os prejuízos causados às populações pela lei Relvas do Governo PSD/CDS,
mas que o PS pretende perpetuar.
Camaradas,
Por muito que
incomode alguns, os trabalhadores e o povo sabem com quem contam e que vão continuar
a contar com o PCP, com a intervenção dos seus eleitos na Assembleia da
República como nas autarquias, no movimento sindical, nos locais de trabalho,
nas colectividades e nas ruas, tomando a iniciativa, resistindo e combatendo às
continuadas e crescentes ofensivas do capital e das forças que o servem.
Viva o Partido Comunista Português!
* Intervenção no almoço-convívio do PCP em S. Pedro da Cova, Gondomar