Notas de campanha (11)


1. Às sete e meia da manhã, ainda o Sol espreita atrás da fábrica, vai já caudalosa a entrada no novo turno. A cadência aumenta e o passo apressa-se com o correr dos minutos. O cumprimento e a oferta devem ser breves – Bom dia. Posso entregar as propostas e os candidatos da CDU? “Claro que sim, obrigado.” Agora, a dobadoira gira ao contrário: saem os operários do turno da noite, olhar macerado, o corpo a reclamar a urgência do descanso. Sabemos do que passam. Não é só em tempo de eleições que o PCP está em contacto com os trabalhadores.

2. As escadas rolantes da estação do Metro do Bolhão são um prodígio a lançar gente às golfadas para a superfície no cruzamento de Santa Catarina com Fernandes Tomás – uns que vão pegar ao trabalho e se apressam a tomar nas mãos o panfleto e a seguir em frente; outros que recusam a informação com indiferença ou sobranceria (“não, não quero”); outros, ainda, que se desfazem em amabilidade e diversidade de línguas a declinar a oferta por manifesta barreira linguística. Mas outros, porém, que se nos dirigem: “não me arranja um folheto desses?!”

3. No “Mercado Temporário do Bolhão”, praticamente não há banca onde a vereadora Ilda Figueiredo não seja retida à conversa com os comerciantes. Seja porque desde sempre a CDU acompanhou as aspirações e apoiou as reivindicações de quem ali trabalha, seja porque reconhece o trabalho realizado em várias frentes. “A senhora doutora ajudou-nos muito!”, repetem num tom genuíno que dá gosto ouvir. Que podem continuar a contar com ela na Câmara, “e com estes camaradas na Assembleia da República”, atalha de imediato, apresentando os candidatos. “Vê-se que são boas pessoas”, elogia uma vendedora.

4. Adiante, um vendedor interpela-nos assim: “Acham que a gerigonça é para continuar?”.
– O povo é que decide, mas, já agora, deixe que lhe diga que a palavra tem um sentido negativo…
– Pois, mas olhe que quem a usou (no início, o CDS) está a ser castigado…

5. Almoço com a Juventude CDU na cantina da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, conhecida por ser “a pior da UP”. “O desinvestimento no Ensino Superior também se reflecte na cantina”, observa o Afonso Sabença, da JCP e candidato CDU, na tribuna realizada no pátio adjacente à cantina. E deixa uma nota de reflexão: “O que se decidir no domingo vai influenciar as nossas vidas”.

6. Está a tribuna acabada e estão os camaradas do apoio a arrumar cabos e desmontar o cenário, quando uma trabalhadora se aproxima de nós, autocolante ao peito. Vem de uma juventude lá longe esta “ligação ao Partido”. Corre-lhe nas veias e na memória da resistência o sangue de mineiros perseguidos por pides. E ainda há quem queira branquear noite tão negra!

7. Estamos agora na zona do Marquês, em contacto com a população, como habitualmente com entrega de propaganda. Uma mulher diz para a amiga hesitante em aceitar: “Olha que o Partido Socialista fez alguma coisa porque tinha os da esquerda a pressionar”.

8. Arruada com distribuição de documentos na Maia. Como habitualmente, há muito quem os aceite, outros – poucos – que os declinam. Nas lojas e cafés, verdade seja dita, a CDU é recebida com simpatia, independentemente do que pensam ou em quem votem os proprietários e gerentes. Num salão de beleza, uma cliente rejeita o panfleto, num gesto empertigado. “Estou mortinha de que acabem as eleições”, profere, enfadada.

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