As "Dez decisões alimentares para 2013" e a grave situação económica e social
A Direcção-Geral de Saúde (DGS) publicou, no seu sítio electrónico (não sei ainda que outro tipo de divulgação ao público fez ou fará), um importante conjunto de recomendações relativas a hábitos alimentares e não só, que reproduzo abaixo.
Parece evidente que, estrategicamente e além do seu evidente mérito intrínseco, as "Dez decisões alimentares para 2013" colam de forma clara ao contexto de crise - de grave, de muito grave crise - económica e social que o país está a viver, pois muitas famílias cederão à tentação de cortar nas despesas de alimentação ou de fazer opções erradas e, sobretudo, muitas não têm já rendimentos suficientes que lhes garantam o acesso a um planeamento alimentar diário saudável.
Num pequeno trabalho que publico hoje no "Jornal de Notícias", a bastonária da Ordem dos Nutricionistas, Alexandra Bento, chama a atenção para dois problemas que a indiscutível bondade do documento da DGS não ultrapassa:
Primeiro - A situação de clara insuficiência económica de inúmeras famílias (e pessoas sozinhas também). Considerando "muito complicado" que se possa fazer uma alimentação saudável (devidamente balanceada em frutas e legumes, leite e derivados, carne, peixe e diversificadas fontes de hidratos de carbono), com menos de cinco euros por dia e por pessoa, Alexandra Bento põe sobre a mesa da notícia a aritmética desconcertante da realidade económica e social: um casal com dois filhos necessita de 600 euros por mês para alimentação; se ambos ganharem o salário mínimo nacional (menos de mil euros), não conseguem suportar tal peso.
Segundo - A clara insuficiência da rede de profissionais qualificados - os nutricionistas - não só nas cantinas de escolas e empresas, mas sobretudo nos centros de saúde e unidades de saúde familiar, isto é, ao nível dos cuidados de saúde primários, no apoio em educação, aconselhamento e orientação das escolhas alimentares, procedimentos de confecção de refeições e outras tarefas.
Dez decisões alimentares para 2013
O início do ano é muito dado a promessas várias. No caso da alimentação, é preferível pensar em decisões simples e fáceis de realizar ao longo de 2013 do que em grandes mudanças. E, se possível, que sejam promessas saborosas, fáceis de executar e económicas.
- Fazer da água a principal bebida do dia, a acompanhar refeições e fora delas. A água permite hidratação correta sem excesso calórico, ajuda a regular a temperatura corporal, permite ótimo desempenho físico e intelectual, contribui para a adequada regulação da pressão arterial e ainda uma pele sadia. Felizmente, Portugal possui uma enorme variedade de águas que importa conhecer.
- Começar as refeições principais com uma sopa de hortícolas, que em alguns casos se pode até transformar na refeição principal com a adição de leguminosas (feijão, grão, ervilhas), carne ou peixe. A sopa é, em Portugal, uma das principais fontes de hortícolas, produtos ricos em substâncias protetoras e em fibra, essencial ao bom funcionamento intestinal, saciedade e regulação da gordura ingerida.
- Inclua leite e lacticínios nas pequenas refeições ao longo do dia. Apenas um copo de leite possui cerca de 28 % do cálcio necessário por dia para um adulto, 24 % da Vitamina D, 22% do fósforo...ou seja, o leite é um super alimento de baixo custo e facilmente disponível de manhã ou em qualquer hora do dia.
- Escolha pão de qualidade nas pequenas refeições ou a acompanhar o almoço ou o jantar. O pão, de preferência de mistura, é fonte importante de energia, vitaminas e fibra. Ao contrário da maioria das bolachas, croissants e outros produtos de pastelaria, o pão possui valores reduzidos ou nulos de gordura e açúcar, o que deveria fazer dele o alimento central das pequenas refeições ao longo do dia.
- Invista nas suas capacidades culinárias. Encontre espaço e tempo para melhorar a sua capacidade de preparar refeições saborosas e nutricionalmente equilibradas. Ao longo do mês tente encontrar novas receitas que integrem produtos vegetais, equilíbrio nutricional, sabor e rapidez. Depois de testadas e se resultarem, guarde esse precioso conhecimento. É um investimento decisivo para a sua saúde e para a sua família.
- Tente fazer compras de proximidade. Ajude a sua comunidade local, conheça quem lhe vende, estimule para que estejam à venda produtos de que gosta, compre alimentos frescos, leve sacos de casa, ajude o meio ambiente e não utilize o carro. Faça, ainda, exercício moderado nestes percursos.
- Não se esqueça de levar fruta consigo quando sai de casa. Ótima opção, prática e económica em qualquer altura do dia. Durante a manhã e a meio da tarde é um excelente motivo para fazer uma pausa, repor energias e recomeçar o trabalho com nova motivação e empenho.
- Aproveite para experimentar novos sabores e atividades, como uma pequena plantação de ervas aromáticas, num pequeno terreno ou até mesmo em casa em vasos. Além de poupar algum dinheiro, pode proporcionar momentos de descontração e divertimento em família. O uso destas ervas, permite, ainda, reduzir o sal que adiciona na confecção dos alimentos e manter um sabor agradável. Experimente colocar hortelã na sopa de legumes.
- A alimentação saudável, um peso adequado e atividade física estão interligados. Trinta minutos por dia de caminhada vigorosa podem significar, com treino - 3000 passos, contribuindo para a redução da pressão arterial, do colesterol e bem-estar mental. Este percurso pode ser realizado a caminho do emprego, ao almoço (15 minutos para cada lado) ou ao final da tarde quando vai comprar produtos hortícolas ou fruta fresca numa loja de proximidade.
- Por fim, desconfie de soluções milagrosas para comer de forma equilibrada ou perder peso em pouco tempo e sem esforço. Veja a alimentação saudável e a atividade física como um investimento a médio prazo em si e na sua família. Tente juntar prazer à mesa, equilíbrio nutricional e companhia dos que gosta. Exigirá tempo, paciência e aprendizagem como tudo o que realmente vale a pena na vida.