Memórias a propósito da morte de António Borges Coelho
Tenho a sorte de ter conhecido António Borges Coelho, que morreu ontem, aos 97 anos, através de três vias: a sua obra; os aspectos documentados da sua vida na prisão em Peniche; e as minhas conversas com o irmão José Luís.
Guardo com particular emoção a memória das minhas visitas ao Forte de Peniche, sobretudo no que se refere à sua correspondência familiar ali exposta e ao extraordinário caso do seu casamento com a enfermeira Isaura Assunção da Silva (Borges Coelho) naquela prisão fascista.
E guardo com especial carinho as conversas que, em diversas ocasiões mantive com o maestro José Luís Borges Coelho acerca da fascinante relação epistolar mantida, ou melhor, muito censurada pelo reitor do seminário, com o irmão António, entre outros momentos da sua vida.
O José Luís, que tive a honra de substituir, no início de 2000, na Assembleia Municipal do Porto, quando o maestro, então eleito pela CDU, foi chamado à Administração da sociedade 2021, Porto Capital Europeia da Cultura, morreu em 24 de Agosto passado, aos 85 anos.
Em férias longe do Porto, não pude estar na despedida do José Luís, um camarada que muito estimei e um intelectual comunista que muito admiro. Mas, pouco menos de um mês depois, a 20 de Setembro, tive o privilégio de participar num encontro de homenagem ao maestro promovido pelo "seu" Coral de Letras da Universidade do Porto.
Foi um momento muito belo, com a evocação comovente e fraterna de memórias. Perto do final, quando me despedia dos familiares, perguntei pelo António. "Não pôde vir, mas pediu que lhe contássemos como correu."
A foto é extraída do sítio do PCP (pcp.pt), que ilustrava a nota de pesar de ontem.
