Uma homilia corajosa na defesa dos imigrantes
O bispo emérito católico de
Urgel, no principado espanhol de Andorra, afirmou ontem, em Fátima, que “acolher
migrantes não é uma opção política” e que essa “exigência evangélica” significa
“defender a dignidade sagrada de cada ser humano, criado à imagem de Deus”.
D. Joan-Enric Vives i Sicília proferia
a homilia da celebração da palavra no final da procissão das velas, no âmbito
da Peregrinação Nacional do Migrante e do Refugiado a Fátima, a que presidiu, que
decorreu ontem e hoje.
A peregrinação insere-se na Semana
Nacional das Migrações, promovida pela Obra Católica Portuguesa de Migrações,
da Conferência Episcopal Portuguesa, que prossegue até ao próximo domingo, sob o
tema “Migrantes Missionários da Esperança”.
Citado pela agência de notícias
católica Ecclesia, o bispo emérito de Urgel, onde trabalhou com a comunidade
portuguesa emigrada em Andorra, pôs o dedo na ferida da desumana ofensiva
contra os imigrantes que entre nós procuram de vida digna e de felicidade.
“Todos os dias, homens, mulheres
e crianças atravessam fronteiras em busca do mesmo que todos desejamos: paz,
trabalho, segurança e um futuro melhor. E muitas vezes o que encontram é
suspeita, rejeição ou indiferença”, disse.
Proferidas perante cerca de 60
mil pessoas, na maioria emigrantes portugueses nos quatro cantos do mundo, as
palavras de D. Joan-Enric Vives i Sicília revestem um significado expressivo
face à sanha persecutória do PSD, do CDS e do CH contra os imigrantes.
Num contexto em que o Tribunal
Constitucional acaba de declarar a inconstitucionalidade da lei de estrangeiros
que, designadamente com as normas sobre o reagrupamento familiar e acesso aos
tribunais, atinge direitos fundamentais de família, de infância e de
maternidade e paternidade, o bispo salientou o “direito [do imigrante] a ser
tratado com dignidade em qualquer fronteira”.
Provavelmente, o presidente da
peregrinação migrante estava consciente de que falava para milhares de
portugueses que, em Maio passado, fizeram opções de voto na AD e, sobretudo, no
Chega – o vencedor das eleições nos círculos da emigração – e que essas forças
se reclamam do humanismo cristão e até do fervor católico (veja-se o líder do
CH…).
Ao chamar a atenção para a urgente
defesa do “direito a fazer parte de uma sociedade que não exclui, mas acolhe e
integra, e que promove a fraternidade”, D. Joan-Enric Vives i Sicília não
deixou de colocar de forma tocante um desafio maior para os crentes, ao
defender que “devemos reconhecer o rosto de Cristo no migrante”.
Lembrando que a “história
portuguesa está marcada por uma e longa história de emigração (…) em busca de
melhores condições de vida”, o presidente da peregrinação salientou: “Hoje,
Portugal acolhe muitos que aqui chegam com os mesmos sonhos. Somos, pois,
chamados à coerência histórica e evangélica”.
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