Sobre o pronunciamento do PCP acerca da situação no Leste da Europa
O Partido Comunista Português (PCP)
pronunciou-se, ontem, “sobre os recentes desenvolvimentos no Leste da Europa”
de uma forma tão clara, quanto ao seu posicionamento, que custa a compreender
certas interpretações que inundam o espaço público.
Vejamos os tópicos essenciais do
comunicado:
O PCP “manifesta profunda preocupação
com o desenvolvimento da situação”. Não há, em todo o texto, qualquer expressão
de apoio, nem explícito nem implícito, às decisões das autoridades da Federação
Russa.
“A situação e os seus
desenvolvimentos recentes são inseparáveis de décadas de política de tensão e
crescente confrontação dos EUA e da NATO contra a Federação Russa”, incluindo
com o alargamento da NATO e a militarização do flanco leste da Europa com o
estacionamento de abundantes tropas e armamento, incluindo mísseis, junto à
fronteira russa. São factos.
“A situação na Ucrânia não pode
ser dissociada do golpe de Estado de 2014, promovido pelos EUA, a NATO e a EU,
protagonizado por grupos fascistas, e que levou à imposição de um regime
xenófobo e belicista.” Haverá mesmo dúvidas?
“O regime ucraniano não só nunca
cumpriu (os acordos de Minsk), inclusive de forma assumida, como impediu a
concretização de uma solução política no Donbass.” As violações sistemáticas
dos acordos e do cessar-fogo são relatadas diariamente pela Missão Especial de Monitorização da insuspeita Organização para a Segurança e aCooperação na Europa (OSCE).
“O PCP reafirma a necessidade do
desenvolvimento de iniciativas que contribuam para o desanuviamento e que
privilegiem um processo de diálogo com vista a uma solução pacífica para o
conflito.” Novamente: na linha da defesa do primado da paz, do respeito pelos
princípios da Cartadas Nações Unidas e da ActaFinal da Conferência de Helsínquia, o PCP não toma partido em relação às
decisões concretas de Moscovo, antes coloca a questão nos termos em que deve
ser posta – a do efectivo desanuviamento, para o qual em nada contribui o crescendo
de retórica belicista especialmente por parte da administração norte-americana.
“O PCP denuncia a perigosa
estratégia de tensão e propaganda belicista promovida pelos EUA, a NATO e a EU e
apela ao desenvolvimento da acção em defesa da solução pacífica dos conflitos”
e “pela rejeição do alargamento da NATO e pela sua dissolução, contra a
militarização da União Europeia.” Mais uma vez, a rejeição da via belicista e
defesa dos princípios da paz e do desarmamento consagrados no Art.º7.º da Constituição da República Portuguesa.
Na foto (via OSCE), em 1975, na Conferência de Helsínquia, da esquerda para a direita: o secretário de Estado norte-americano, Henry Kissingir, os líderes dos Estados Unidos da América, Gerald Ford, e da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), Leonid Brezhev, e o ministro dos Negócios Estrangeiros da URSS, Andrei Gromyko.