Puritanismo editorial

O líder do partido Livre e recem-eleito deputado à Assembleia da República, Rui Tavares, despediu-se hoje do seu espaço de opinião na última página do Público. A saída fora anunciada pela direcção do jornal na passada sexta-feira, dando nota de que "deixará de contar com colunas regulares da responsabilidade de personalidades com cargos políticos e partidários no activo".

O anúncio, invocando "os padrões da imprensa de referência europeia", foi saudado por leitores e admiradores com copiosos elogios. Terá a direcção do Público as suas razões; e quem a aplaude legítimo direito de subscrever e aplaudir tal decisão. Não creio que seja motivo de tanto regozijo.

Com a independência de considerar que os espaços de opinião da imprensa em geral, e do Público em particular, não só não promovem um efectivo pluralismo político-partidário, como também discriminam opiniões no campo do PCP, não creio que a liberdade de expressão do pensamento através da imprensa e o enriquecimento do espaço público com opiniões claramente identificadas saiam a ganhar.

A esta espécie de puritanismo editorial, que joga mais na ambiguidade do que na transparência, prefiro a assunção clara de responsabilidades e de rótulos: vale mais a prosa honesta de um colunista assumidamente identificado do que a dissimulação.

Que o Público tenha seguido essas opções, é lá com ele. Mas já me parecem exagerados certos elogios e que fique erigido como modelo.

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