A guerra na Ucrânia e a campanha anticomunista

 


Poucos terão dúvidas de que decorre, há muitas décadas, uma prolongada e profunda batalha ideológica, na qual o capital investe poderosos recursos, em ordem a suportar a sua extensa e influente máquina – de que os órgãos de comunicação social são um instrumento determinante –, destinada a combater as forças que se lhe opõem, cujos meios jamais serão equivalentes.

Também não restarão grandes dúvidas de que, em momentos como aquele que atravessamos, tal batalha adquire maior intensidade. Cavalgando a onda da actualidade, a máquina dominante não hesita em insuflar a insídia e a mentira, manipulando, distorcendo a informação, omitindo elementos fundamentais à compreensão historicamente informada e honestamente contextualizada dos acontecimentos.

Também não é por acaso que essa máquina aproveita todos os pretextos para, no contexto português, tornar o Partido Comunista um (ou “o”?) alvo preferencial dos seus ataques, mesmo que tal objectivo se revele e se comprove como completamente despropositado e infundado. Porque nesse afã vale tudo, até a efabulação e a mais grosseira mentira.   

A pretexto dos gravíssimos acontecimentos na Ucrânia e do contexto em que estes ocorrem, dos grandes meios de informação à Assembleia da República, das conversas se café aos debates televisivos que deveríamos esperar informados e honestos, passando pelas colunas dos jornais e pelas rádios, o PCP e as suas análises (já agora, as mais aprofundadas e consistentes do espectro político-partidário e do espaço público em geral), assim como a sua posição sobre a evolução da situação no Leste da Europa e o apelo a uma resolução pacífica do conflito tornaram-se um verdadeiro bombo-da-festa.

Com uma preocupante ignorância, um indigente nível de informação e uma irresponsável falta de reflexão, são demasiados os que desferem ataques destituídos de verdade e de fundamento sério ao PCP. Muito mais perigosos e desonestos são aqueles que, possuindo ou tendo o dever de possuir informação e elementos de análise sólidos que permitam enquadrar e explicar os acontecimentos, alimentam e difundem mistificações e mentiras, procurando dar credibilidade às arremetidas e a uma nova campanha anticomunista.

Ontem à noite, o canal televisivo CNN Portugal ofereceu mais um momento muito expressivo desse combate ideológico – mais desleal e caceteiro do que duro – que o comércio mediático bem aproveita para fazer passar a mensagem dominante, com o “confronto entre Sérgio Sousa Pinto e António Filipe”

António Filipe, concorde-se ou não com ele, é um interlocutor sério, sereno, incapaz de uma indelicadeza e muito menos de uma grosseria, comprovadamente respeitado pelos adversários do seu partido, nomeadamente na Assembleia da República. Não merece ser tratado como foi ontem, naquela conversa de baixo nível.

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