Para que serve um jornal diário?

Aos que, numa certa corrente, defendem que, aos jornais impressos do dia seguinte a determinado acontecimento extensamente noticiado na diversas plataformas no próprio dia em que ocorre, não resta senão aprofundar análises e cenários e encontrar respostas para as perguntas que as notícias desse dia não deram, é costume outros fazerem notar que, mesmo assim, um jornal diário não pode descurar o essencial da sua missão primeira - fornecer informação de base e de enquadramento.

Estes últimos costumam até usar o exemplo de determinado cidadão que, embarcando num avião algures no mundo, onde esteve a leste dos acontecimentos, na véspera, no seu país, toma para ler os jornais do dia em que embarca já eventualmente disponíveis na aeronave, ou os compra ao desembarcar à chegada. O que ele precisa de saber, antes de mais, é o que aconteceu, que factos ocorreram dignos de notícia e que ele precisa de conhecer previamente à leitura de outros textos.

Entre os jornais diários de ontem, há os que pura e simplesmente omitiram a notícia do dia ao viajante que chegasse ontem a Portugal: que o PCP anunciara o voto contra o Orçamento do Estado para 2022 e que o seu secretário-geral explicou aos jornalistas as razões pelas quais tomou essa decisão.

Não sabemos se isso aconteceu obedecendo a premissa - que creio que errada, mas pelo menos discutível - segundo a qual se presume que os leitores do dia já sabem o que se passou na véspera e que agora buscam mais, ou se esqueceram, ou não tinham espaço para mais e o filtro dos chamados critérios jornalísticos ditou a "fórmula". 

Por mim, receio que não seja um caminho muito avisado.     

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