Os adversários naturais do CDS
Ainda a tempo, suponho, duas ou
três notas sobre a pequena entrevista concedida ontem pelo presidente do
CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, à RTP (Telejornal).
A primeira, quanto ao anúncio de que,
à maneira de ponto prévio e assinalando a seu modo o Dia Internacional da Mulher,
cumpria a sua palavra ao escolher para porta-voz do partido uma mulher, numa “aposta
do CDS nas mulheres com mérito e com talento”.
Havendo apenas duas mulheres numa
comissão executiva de 18 membros (de resto em minoria muito evidente nos órgãos nacionais), significa que o CDS tem tão poucas mulheres “com
mérito e talento”?
A segunda, sobre a resposta do
líder do CDS-PP, quando perguntado se receia o crescimento de partidos à sua
direita, esclarecendo (cerca das 20:45) que o “preocupa muito mais o
crescimento à esquerda”.
“Os nossos adversários situam-se
do Partido Socialista para a sua esquerda”, precisou. Quanto ao mais, “não
estou preocupado com nenhum dos outros fenómenos”.
Talvez estas singelas palavras
nos ajudem a compreender a re-arrumação de forças no campo da direita e
de que modo a sua reconfiguração, com o surgimento de novos partidos de pendor
fascista, redesenha o combate político.
Em boa parte, os ideólogos e os dirigentes
do Chega e da Iniciativa Liberal estavam mais ou menos escondidos nos
partidos da chamada “direita tradicional” (e outros ainda por lá permanecem por agora), emergindo à luz do dia porque está a
mudar o contexto que os ocultou num certo pudor.
Mas também indicia que a
federação de correntes de direita e extrema-direita determinada pelo quadro democrático
está a sofrer uma nova metamorfose, numa aparente fragmentação formal das
diversas forças, que no essencial convergem e estão ao serviço de uma ordem que
nunca se conformou com o 25 de Abril e com as suas conquistas.
Também por isso são perigosas.
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