O jornal de greve "JN Em Luta", em memória de Paulo F. Silva

Exemplares do jornal de greve "JN Em Luta" e "provas de página"

Sempre discreto, sereno e generoso, o Paulo F. Silva foi um activista sindical de grande eficácia, especialmente nos momentos em que era necessário dar corpo às ideias e concretizar em acções os propósitos de luta.

Das lutas que travámos no JN, recordo de forma muito particular a greve de 9 e 10 de Junho de 2006, decidida pelos jornalistas para forçar a Administração da Global Notícias (controlada, desde Setembro de 2005, pela Olivedesportos) a negociar um conjunto de reivindicações de natureza salarial.

Conduzida pela Direcção e pelos delegados do Sindicato dos Jornalistas, a jornada incluiu a produção de um jornal de greve - o "JN Em Luta" - pelos profissionais empenhados na paralisação.

Foi uma aventura extraordinária, de verdadeiro jornalismo de combate, de causa - a nossa causa - com um propósito muito claro: explicar de viva voz aos leitores do JN que objectivos nos animavam e as razões pelas quais o seu jornal seria pelo menos seriamente afectado no dia 10.

Houve reportagens sobre a greve do primeiro dia, sobre as reacções dos leitores à distribuição de um manifesto à porta do jornal, recolha de opiniões de cidadãos, textos de enquadramento e explicação da luta no JN, e também sobre outras batalhas de jornalistas e outros trabalhadores do sector.

A Redacção do "JN Em Luta" - que teve um número único - foi instalada na Delegação Norte do Sindicato (foi o SJ a assumir a edição), onde o Paulo F. Silva desempenhou três papéis fundamental - o de espécie de chefe de Redacção, editor de arte e paginador, graças ao precioso programa de paginação que possuía no portátil.

Apesar de alguns percalços técnicos (ou tecnológicos), especialmente relacionados com a capacidade de impressão à hora que nos seria mais conveniente, a "obra" fez-se. Clareava o dia quando saímos os dois de uma reprografia solidária, onde o nosso jornal de greve foi feito, depois de vencidos um ou dois desaires com provas de página.

Ainda hoje tenho uma memória muito gratificante do sorriso fresco, quase juvenil, do Paulo, quando nos despedimos no cruzamento próximo das nossas casas, para apressarmos duas ou três horas de sono antes de retomarmos o combate, com a nova tarefa do dia - a distribuição, na "baixa" do Porto, do nosso "JN Em Luta", por uma animada brigada de grevistas.

A partir de hoje, guardo com redobrado carinho os meus "papéis" dessa jornada tão fraterna quanto justa.

Obrigado, Paulo!