Devolver mesmo a palavra ao povo

Há uma lição muito clara desta gravíssima crise: Portugal e a Europa têm de reflectir muito seriamente se querem salvar a democracia ou soçobrar sob a pata dos mercados.
O primeiro-ministro e o PSD não podem continuar iludir-se sobre a inevitabilidade da queda do Governo e a levar a teimosia a um estado paranóico. Se não sabem olhar e ouvir o que acontece à sua volta, definitivamente nada sabem e jamais deveriam ter merecido o favor dos votos que lhes confiaram.
O CDS-PP não pode deixar de assumir uma ruptura que já o é sem margem para dúvidas. A decisão "irrevogável" de Paulo Portas não é um acto pessoal. Paulo Portas não é apenas um ministro; é o líder do partido que permitiu a formação deste governo. Os outros ministros e secretários de Estado do CDS não têm outro caminho senão demitir-se também. A menos que o CDS continue a caucionar este Governo e a pantomina ridícula de ontem.
O Presidente da República não pode continuar a fingir que o que está a acontecer é muitíssimo grave - e aqui o superlativo não é abusivo - , demasiado grave para ficar à espera de que os partidos "se entendam".  
É já evidente que a palavra terá de ser devolvida ao povo, com todas as consequências que implica sempre a realização de eleições.
É urgente fazer regressar o debate politico ao espaço público. Mas que esse debate se faça com conteúdos centrados nas pessoas, na esperança de futuro, na defesa intransigente das liberdades e da democracia.
Continuar a insistir na obsessão com as medidas exigidas pela tróica e com as bênçãos dos mercados (teclas recorrentemente repisadas nas últimas 24 horas por alguns comentadores) é que não abrirá grandes horizontes.
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