É um jornal satírico, senhores!


Há alguns anos, era então presidente da Direcção do Sindicato dos Jornalistas, recebi uma chamada surpreendente a partir da Redacção de certo órgão de informação.

Uma voz feminina e jovem convidava-me a tomar posição sobre uma certa alteração na emissão da carteira profissional. A pergunta era assertiva e o tom sugeria convicção.

Tomei-a como vítima de uma partida e perguntei-lhe se era estagiária. Empertigou-se um pouco e tratou de insistir na pergunta, reforçando a pertinência da abordagem com uma referência a "uma notícia do 'Público'".

Tenho a certeza de que fui educado. Corrigi-a: que não era "uma notícia do 'Público'", mas sim uma pilhéria do "Inimigo Público".

Do outro lado, já a denunciar a impaciência juvenil, a jovem voltou à carga: se eu não queria comentar...

O caso era sério. Repliquei indagando se não lhe teriam pregado a partida de pedir-lhe que me telefonasse a pedir uma reacção a um texto satírico.

Mas se era "uma notícia do 'Público'"!...

Entreguei-me à tarefa de tentar explicar-lhe que o "Inimigo Público" era - é - um jornal satírico, o que é uma publicação satírica, que aquilo que tratava como "notícia" era uma graça e que, por essas e outras razões de que me recordo, não valia a pena recolher a minha opinião.


Lembrei-me deste episódio ao conhecer a notícia de que a Direcção Nacional da PSP divulgou a intenção de processar o "Inimigo Público" por causa desta capa.

Mensagens populares deste blogue

Jornalismo: 43 anos e depois

O serviço público de televisão e a destruição da barragem de Kakhovka: mais rigor, s.f.f.

O caso Rubiales/Jenni Hermoso: Era simples, não é?