As medidas da tróica e as combinações intangíveis

A repórter afiança, em directo para o serviço noticioso da hora do almoço, que o secretário de Estado Adjunto do Primeiro-ministro, Carlos Moedas, advertiu, no Parlamento, que o mês de Setembro "ainda será pior", diz ela, quanto às medidas impostas pela tróica contra os portugueses (esta parte do contra é minha).
O despacho noticioso devolveu-me à memória a cena de um homem - teria uns cinquenta e muitos, talvez 60 anos - que há dias estava à minha frente na fila de um quiosque.
Angustiado, perscrutava a colecção de números expostos no placard afiançando prémios e felicidade a quem tivesse acertado nos números mágicos do Totoloto ou do Euromilhões. "Mas eu tenho o 37, eu tenho o 37...", balbuciava. Ao que a menina do quiosque respondia que "a máquina é que tem razão" e lá lhe foi explicando que a combinação não tinha afinal um cêntimo de prémio.
Vencido pela evidência, o homem retrocedeu cabisbaixo e mergulhou na rua triste. A menina suspirou: "Isto está tão mau que as pessoas agarram-se a tudo e ficam ansiosas por tudo."
A crer no vaticínio da repórter, hei-de encontrar mais vezes aquele homem a mirar uma parede de papéis com combinações intangíveis.
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