O "apelo" indevido do Presidente da República
O presidente da Assembleia da
República, Augusto Santos Silva, fez muito bem em advertir certo líder partidário
e deputado à AR para o respeito devido por todos para com os muitos milhares de
cidadãos estrangeiros que residem no nosso país e contribuem para o seu
desenvolvimento.
São muitas e, nalguns casos,
inultrapassáveis as divergências que tenho em relação aos seus posicionamentos,
mas mereceu os justos aplausos com que, espontaneamente, a maioria dos
parlamentares o saudou.
O presidente da Assembleia da República não poderia deixar de interpretar o comando constitucional e o consenso democrático em relação ao acolhimento dos imigrantes, nem deixar de agir como agiu.
Mas estou certo de que, apesar de
declarar que não quer pronunciar-se sobre a vida de outros órgãos de soberania,
o Presidente da República fez muito mal em apelar “à aproximação das posições
entre as duas partes”.
Esse “apelo” releva de um
profundo e perigoso equívoco: não há um conflito entre duas partes; há um claro
isolamento parlamentar de tal partido e do seu líder designadamente pelo seu
comportamento obscenamente xenófobo e racista.
E tem uma consequência grave: ao proclamar como "parte" a dita personagem, Marcelo normaliza o seu comportamento.
Mas também estou certo de que, com estas e com outras, o figurão vai-se multiplicando no espaço público e capitalizando entre os seus apoiantes. É também assim que o ascenso do fascismo se faz.
(Foto copiada, com a devida vénia, do sítio oficial da Assembleia da República)