Venezuela: os perigos de um embuste

Os acontecimentos na Venezuela nas últimas 24 horas confirmam as inúmeras informações de que a direita Venezuela, orquestrada e apoiada pelos Estados Unidos e apoiantes regionais como o Brasil e a Colômbia, tem em marcha acelerada um golpe de Estado que pode degenerar na deflagração de uma dramática confrontação armada interna, não sendo de excluir intervenções militares externas.

O "reconhecimento internacional" da avocação do poder executivo pela Assembleia Nacional e da teatral autoproclamação pública do presidente de turno da AN, Juan Guaidó, como "presidente interino", ou "encarregado", da Venezuela é um embuste perigoso e irresponsável que só acrescenta riscos a uma situação extraordinariamente complexa e delicada.

Em plena disputa de "legitimidades constitucionais" - ora pelo presidente eleito em Maio de 2018 e empossado há 14 dias, ora pelos golpistas acobertados na AN -, ameaçar recorrer à força para agravar a já muito condenável ingerência externa protagonizada pelos Estados Unidos, como fez ontem Donald Trump, na eventualidade de uma resposta musculada das autoridades venezuelanas ao golpe, é lançar ainda mais gasolina numa fogueira já de si perigosíssima.

No ponto em que as coisas estão, os EUA, o chamado Grupo de Lima marionetado por Washington e a União Europeia de pouco ocultas pulsões neocoloniais deveriam fazer cessar imediatamente o roteiro golpista e renunciar ao suporte ao "governo" e ao "presidente" paralelos que apadrinham.

Os seus governos sabem, tal como sabemos todos, que, a menos que pretendam realmente uma guerra civil de cujos escombros e despojos pensam espremer dividendos, um dos piores obstáculos ao diálogo urgente é essa engenharia de duplicação de "governos" e que é mais útil à resolução pacífica dos conflitos a definição clara da natureza, dos papéis e dos objetivos dos contendores e interlocutores.
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