À consideração do Dr. Portas

O Governo - nisto querendo eu implicar os dois partidos que o compõem - tem apavorado os portugueses, e especialmente os reformados e pensionistas, com um desavergonhado cinismo, com o projecto de esbulho das respectivas pensões, alegadamente imposto pela tróica internacional.
Depois da celebérrima e quase solene conferência de imprensa do presidente do CDS-Partido Popular de há pouco mais de uma semana, na qual fez juras de que a "TSU para os reformados" não passaria a fronteira da sua tolerância de parceiro de coligação, veio ontem a omnipresente "fonte governamental" informar os jornalistas de que, afinal, o Dr. Portas sempre transigiu, ainda que a título "excepcional", o que quer que isso signifique, de modo que o governo pátrio pudesse deixar ir contentes os enviados da tróica.
Logo o PSD se regozijou, em formalidades de comunicado, com a proclamada cedência do Dr. Portas, largamente repercutida nos meios de informação. Acorreu logo também o porta-voz do CDS-PP na sua própria página de uma rede social, (dispensando-se da formalidadezinha do comunicado...), a clamar contra a "falsidade" de tal nova. E, esta manhã, pudemos ouvir na Antena 1 e ler na Lusa que o presidente do Conselho Nacional a esclarecer que não houve cedência nenhuma, etc., etc., etc.
É certo que, em matéria de assumpção da identidade das fontes desta notícia, o CDS-PP está a ganhar por dois a zero ao Governo (ou ao PSD?...), com o que esperará ganhar mais credibilidade, pois já se sabe que duas pessoas que dão a cara pelos seus bitates nesta suave refrega mediática sempre valerão mais do que uma tal "fonte governamental", que tanto pode ser a denominação da assessoria de imprensa, como um membro do propriamente dito governo que nessa figura de fonte oculta se furta ao escrutínio das suas responsabilidades.
Ora, para que o despudor não seja ainda maior, é aconselhável que o próprio Dr. Portas viesse explicar-se, pública e claramente, diante dos mesmos portugueses que escutaram o aguerrido defensor dos idosos naquele fim de tarde do Dia da Mãe, prometendo impedir aquilo que ele próprio classificou como "cisma grisalho".
Poderá S. Exa. fazer o obséquio desse esclarecimento? Até pode ser à hora do jantar, mas diga qualquer coisinha, se faz favor, está bem?
Agradecido.
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