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A mostrar mensagens de 2017

O sobressalto da Altice e a embaraçosa agonia da ERC

Há pouco mais de um ano, o mercado dos media foi tomado pelo sobressalto do anúncio da intenção da multinacional de origem francesa Altice de adquirir o importante grupo Media Capital, e muito especialmente a estação de televisão TVI, a produtora de conteúdos Plural e o respectivo grupo de rádios, de grande audiência.

Uma questão de língua

Nos comícios para as eleições de quinta-feira na Catalunha (impostas pelo Governo espanhol), os líderes das organizações regionais do Partido Popular e do Ciudadanos falam em Castelhano. Não há coincidências, nem equívocos.

A morte de um empresário

Os obituários, em geral, e os grandes destaques, em particular, são espécies que justificam estudos e reflexões sobre as opções e práticas jornalísticas. Não apenas pelo que retêm e cristalizam dos aspectos conhecidos ou ignorados da biografia dos defuntos, mas também pelo consenso que constroem sobre boa parte das figuras desaparecidas e, sobretudo, pela glorificação em que redundam, por vezes, os registos editoriais, num exercício de independência no fio da navalha. Por exemplo, a morte recente do empresário Belmiro de Azevedo, que ocupou em pleno os noticiários aos audiovisuais e dos meios de informação em linha de 29 e 30 de Novembro, bem como foi assunto principal dos jornais deste último dia, constitui um interessante caso que seria útil analisar com detalhe crítico – tarefa que não cabe neste artigo, nem a tal se propõe, mas que se sugere a académicos. Um voo rasante sobre o conteúdo, os ângulos de abordagem e os qualificativos evidenciam, em geral, uma atitude encomiástic

Jerusalém do capital

Os Estados Unidos, por intermédio de Donald Trump, confirmaram a sua decisão de "reconhecer" Jerusalém como a capital unificada de Israel. Trump leva o ónus do discurso bronco e de uma decisão irresponsável, mas não nos fixemos demasiado nele, para não perdermos o fio à meada dos interesses que velam antes, durante e depois dele...

Filões e agendas

1. Por estes dias, corre nas redes sociais uma insistente torrente de interpelações aos media , questionando-os sobre a ausência – ou pelo menos a insuficiência – de notícias aprofundadas e sistemáticas sobre os processos relativos a alegada fraude com fundos europeus na Tecnoforma, envolvendo duas altas figuras do PSD; de alegada corrupção para a atribuição de «vistos gold», com a participação de figuras do topo da Administração do Estado e até um ministro do PSD; e de alegada corrupção na compra de submarinos à Alemanha tutelada pelo anterior presidente do CDS-PP. Não é que as notícias não existam, como demonstra, por exemplo, uma investigação publicada há duas semanas pelo Público , mas as inúmeras mensagens veiculadas evidenciam uma insatisfação com a cobertura jornalística conferida àqueles assuntos, em contraste com a prolongada, e nalgumas fases intensa, divulgação de elementos, mesmo que por vezes irrelevantes, do processo da «Operação Marquês». A comparação sugere que ce

A ilusão em duodécimos

Estou a pensar, a propósito desta estranha "polémica" desencadeada pela resistência do PSD à proposta do PCP de extinção do pagamento em duodécimos dos subsídios de férias e de Natal, em quanto é curta a memória e em como foram quase eficazes os ataques aos direitos dos trabalhadores feitos pelo governo PSD/CDS. A imposição daquela forma de pagamento - na realidade, para iludir os trabalhadores e disfarçar o agravamento fiscal de então, bem como para ir os preparando para a extinção a prazo daqueles subsídios - data de 2013. Mas em tão escassos anos tornou-se a normalidade, pelos vistos para muitos!

Esta manchete é uma descarada mentira

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Peões, essa raça indesejável na cidade

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Que linguagem "jornalística" será esta?

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O JN e a cidade

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Estou a pensar, matutando na dupla efeméride que espero viver no próximo ano - 130 anos de existência do "Jornal de Notícias" e 30 anos da minha integração no seu corpo redactorial, vindo do entretanto extinto "O Primeiro de Janeiro" - nas múltiplas funções que a presença de um jornal cumpre, ou deveria cumprir, na vida de uma cidade, de preferência no centro da cidade.  São elas que conferem aos  jornais a dimensão de instituições únicas e insubstituíveis, sobretudo quando os jornais sentem e reflectem o pulsar das cidades e nas suas redacções pulsam todos os mundos. Penso também no quanto os seus edifícios (o do JN foi o segundo construído de raiz no Porto, muito depois de "O Comércio do Porto", também já extinto) emergem na paisagem de emoções que também povoam e definem a cidade. Também por isso fazem parte da alma da urbe.

Os media e as armas nucleares

Por estes dias, o Conselho Português para a Paz e a Cooperação (CPPC) está a dinamizar uma importante campanha de angariação de subscritores de uma petição com vista à assinatura (e ratificação), por Portugal, do Tratado de Proibição das Armas Nucleares , adotado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 7 de Julho passado. A iniciativa não tem tido acolhimento nos media , seguramente muito ocupados com outros temas e pouco inclinados a promover a discussão de assuntos de importância vital para a comunidade, mas cuja utilidade imediata – e imediatamente mensurável em audiência – não vislumbrarão. Foi transitório o interesse mediático (aliás sem grande entusiasmo) pelo tema quando, a 6 de Outubro, foi anunciada a atribuição do Prémio Nobel da Paz à Campanha Internacional pela Abolição das Armas Nucleares (ICANW, no acrónimo em Inglês), cujo trabalho empenhado e decisivo deve ser justamente destacado. Setenta e dois anos depois do lançamento das bombas nucleares sobre Hiroshi

Sobre tudo o que mexe

Começando por declarar que declino a investidura de afilhado da Sra. Dra. Maria Cavaco que, sem me ver tido nem achado, o Presidente da República quis impor-me, venho manifestar preocupação com as piruetas temáticas que S. Exa. faz para estar permanentemente na berlinda mediática. Acrescento, aproveitando esta oportunidade, que ainda estou para perceber por que razões os órgãos de informação alinham neste jogo - tantas vezes patético - de colocar S. Exa. a pronunciar-se sobre tudo o que possa bulir. Um destes dias, talvez se pronuncie ex cathedra sobre a morfologia da caganita do rato-almiscarado e a vida sentimental do gambozino.

Os jornalistas e as armas nucleares

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Correspondendo ao amável convite do Conselho Português para a Paz e a Cooperação (CPPC), participei hoje num debate sobre o Tratado de Proibição das Armas Nucleares, cuja assinatura e ratificação urgente, especialmente pelos países detentores de arsenais nucleares e pelos membros da NATO, defendi. Sabendo-se muito bem quem tem armas nucleares – 15 mil ogivas detidas por nove países, com os Estados Unidos e a Federação Russa à frente, e incluindo a China, o Reino Unido, a Fran ça, Israel ou o Coreia do Norte, com potências e capacidades de propulsão extraordinárias – e o gravíssimo risco que uma deflagração representa para a Humidade, discordei do argumento central usado pelas potências nucleares e a carneirada da NATO (Portugal incluído) para recusar o Tratado: o da preservação do equilíbrio mundial. Com nove países dotados de um poder extraordinário de uso indiscriminado de armas de aniquilamento de cidades e decidir sobre a vida de povos inteiros, é claramente manifest

Pugilatos

Suponho que o futebol se joga dentro do campo e que são os seus resultados e o desempenho das equipas que interessam ao público.  Já me faz muita confusão que os media tenham encetado há anos por uma espécie de pugilato verbal entre dirigentes.   Mas alguém faz o favor de explicar-me por que razões têm relevância mediática - isto é, interesse para o público - as bocas dos assessores de imprensa (perdão, directores de comunicação!) dos clubes nas redes sociais? É só para saber.  Agradecido.

A Revolução de Outubro

Pensando na Revolução de Outubro, no significado imenso que vai para além das extraordinárias transformações e conquistas no século XX e no que se projecta no futuro, estou também a matutar no quanto se diz por estes dias, em rançosos preconceitos e ódios mal dissimulados. Enfim, se a desdenham tanto, por que razões a temem?

Catalunha

Contrastes flagrantes : a) Puigdemont e outros membros do Governo autónomo catalão aguardam em liberdade a tramitação na Bélgica, enquanto os restantes membros estão encarcerados às ordens de um afloramento franquista em Espanha; e b) Enquanto Oriol Junqueras e outros elementos enviados para a prisão pela Audiência Nacional foram algemados, Puigdemont em seus companheiros foram conduzidos sem algemas entre a esquadra de polícia onde se apresentaram esta manhã o o Tribunal de Instrução Criminal onde foram ouvidos.

Ambivalência cívica

A algumas horas da eventual decisão da juíza de turno na Audiência Nacional espanhola, Carmen Lamela, sobre a emissão de um pedido europeu de detenção do presidente eleito da Generalitat da Catalunha, estou a matutar nesta espécie de ambivalência cívica que cerca Carles Puigdemont. Por um lado, é mal compreendido por muitos que tenha "fugido" para a Bélgica, furtando-se, dizem, à Justiça e escapando à prisão preventiva que o Estado espanhol impôs aos seus companheiros de "Gov ern", comportamento este pouco solidário com os mais de dois milhões de catalães que enfrentaram o risco e a brutalidade do referendo de 1 de Outubro. Por outro, talvez seja compreensível que se refugie, enquanto for possível, na "capital da União Europeia", onde pode "circular livremente e em tranquilidade" (a correspondente da RTP em Madrid enfatizava que Puigdemont bebia um café enquanto a Audiência Nacional enviava os seus colegas para a cadeia). É que, enquanto fo

Portugal e a Catalunha

Estou a pensar, matutando ainda no comunicado oficial do Governo português de ontem sobre a "declaração unilateral de independência no Parlamento da Catalunha", nas declarações, sobre o mesmo assunto, do ministro dos Negócios Estrangeiros e do primeiro-ministro, bem como na breve nota oficial, também de ontem, do Presidente da República, por que razões Marcelo Rebelo de Sousa telefonou a Filipe de Bourbon, "em nome da fraternidade entre os dois países e do respeito pelo Estado de Direito". Quanto mais penso, mais receio que o gesto tenha, se não a ressonância de uma vassalagem inadmissível, o significado de deferência e de cumplicidade excessivas.

Uma questão de liberdade

A malta que se pronuncia contra a "ditadura" do Maduro e a falta de liberdades na Venezuela e o controlo dos meios de informação na Venezuela, que diz essa malta a esta coisa do franquista Rajoy capturar a autonomia catalã, controlar a polícia regional, as telecomunicações e a internet e a comandar com pulso firme os meios públicos de informação catalães? Sim, que diz essa malta?

Descontracção e incêndios

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Estou a pensar na despretensiosa imagem que registei, no domingo à tarde, em plena Serra da Freita, descendo para Arouca, como mero auxiliar de memória da tragédia que este Sol funesto (o termómetro mostrava 32 graus Celsius, se não me engano) atrás de uma gigantesca cortina de fumo prenunciava, ou que eu não sabia que estava acontecendo. Deu-se o caso de, estando em passeio descontraído, ter de cidido passar de Vouzela a Arouca, com destino ao Porto, por vias secundárias, a reabastecer a alma e a inteligência de país real.  Por três ou quatro vezes, porém, fui obrigado a desvios e a procurar rotas seguras, fosse por ordem da GNR, fosse por algum conhecimento do terreno, fosse pelo precioso auxílio de mapas e GPS, fosse pelo "instinto" de algum modo treinado em décadas de caminhadas em montes e vales, fosse pelos conhecimentos e experiência do muito que tenho lido, ouvido, observado e escrito ao longo de mais de 30 anos, designadamente sobre Natureza, floresta e fog

Manipulações por interposta pessoa

No dia 1 de Outubro, a Catalunha foi a votos, num referendo sobre a eventual declaração de independência que os media da direita espanhola (ou madrilena…), o serviço público de televisão e até o maior jornal «de referência» internacional em castelhano – El País – não se cansam de cunhar como «ilegal» e mesmo de tentar ridicularizar. El País , que antes de imprimir sob o cabeçalho a modernaça divisa «El periódico global» se ufanava de ostentar «O diário independente da manhã», emparceirou com El Mundo, La Razón e o ABC , por exemplo, às ordens do Governo espanhol na defesa das suas teses «constitucionalistas» e na perigosa aversão ao diálogo com a Generalitat. É público e notório – as imagens e os sons chocantes correram mundo – que a Polícia Nacional e a Guarda Civil espanholas tomaram a Catalunha e desencadearam uma repressão brutal, incluindo com cargas policiais violentas sobre os catalães que protegiam as secções de voto, as urnas e os boletins de voto, que insistiram em e

Já que insistes...

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Che

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Outro barbudo da Sierra Maestra, Ernesto "Che" Guevara, assassinado há 50 anos.

Espontaneidades

Estou a pensar no problema do significado das palavras e do seu alcance e efeitos em Jornalismo.  Vem a propósito do que escutei de uma repórter enviada a Barcelona, cobrindo a manifestação de apelo ao diálogo. É "espontânea", dizia ela.   Basta observar as imagens por breves instantes, atentar um pouco na uniformidade estilística e gráfica de materiais - palavras de ordem e respectivos suportes - ostentados em grandes quantidades. Percebe-se, logo de relance, que de nada de espontâneo tem a iniciativa. Estou a pensar também nas razões pelas quais jornalistas gostam tanto de apresentar como espontâneo - e não haveria qualquer mal se o fosse - o que revela aturada preparação. E receio poder vir a chegar à conclusão de que correm nas veias de certo jornalismo concepções de democracia um pouco, digamos, retorcidamente preconceituosas.

Franco revive na acção de Rajoy

Francisco Franco ressuscitou na cabeça e na acção de Mariano Rajoy e nos bastões da Guarda Civil espanhola. Na hora da verdade, o fascismo varrido para debaixo do tapete na "transição para a democracia" irrompe com toda a força. Depois não se queixem...

Do mesmo autor do êxito mundial de vendas "A esperança é a última a morrer"

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Os jornalistas e a Paz

Um dos monumentos mais impressionantes visitáveis na Península Ibérica é a basílica-cripta de Santa Cruz do Vale dos Caídos, em San Lorenzo del Escorial, província de Madrid, dominando, com ostensiva grandiosidade a Serra de Guadarrama. Além da expressão da soberba faraónica do caudilho fascista espanhol – Francisco Franco – e do expoente de uma estética do poder violentamente antidemocrático e opressor, é chocante o seu significado. Embora viesse a ser local de inumação – entre os 36 mil soldados que ali foram enterrados – de alguns combatentes republicanos mortos na Guerra Civil de Espanha (1936-39), cujas famílias declararam por eles o seu «arrependimento», mas também como espécie de sinal de «conciliação nacional» imposto por países estrangeiros depois da II Grande Guerra (1939-45), o Vale dos Caídos foi concebido por Franco para sua própria glorificação como vencedor e em honra dos combatentes falangistas. Na sua concepção e arquitectura e na estética das obras de arte que

A Autoeuropa e o fervor anti-sindical

A última semana foi marcada pela greve dos trabalhadores da Autoeuropa, que os órgãos de comunicação social não se cansaram de rotular «histórica», mas não necessariamente pelas melhores razões segundo a leitura prevalecente nos próprios media . Foi uma greve tão histórica que pelo menos dois jornais [1] guindaram a «figura da semana», não o líder sindical ou a organização sindical que conduziu a importante jornada de luta, mas, de forma exaltante, nada menos que a pessoa – o antigo coordenador da Comissão de Trabalhadores – que mais se destacou no ataque ostensivo e ofensivo aos sindicatos e aos próprios trabalhadores que massivamente votaram e cumpriram a greve. Com o fervor anti-sindical dos editocratas e para gáudio dos patrões [2] , que vêem reflorescer o divisionismo entre os trabalhadores, os media , que abandonaram há quase três décadas a «rotina» informativa sobre trabalho e sindicalismo, mostraram sem pudor o lado obscuro da captura do campo jornalístico pelos intere