Nave dos dias

Diz um velho rifão popular que “Quem não se sente não é filho de boa gente” e uma também antiga asserção antiga aconselha a que honestamente se atribua “o seu a seu dono”, ensinamentos que se aplicam sem esforço ao mínimo de rigor jornalístico. Vem isto a propósito de, dentro de algumas horas (10:00, hora de Lisboa), estarem em discussão, na Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública (COFAP) da Assembleia da República dois importantes requerimentos. Um, apresentado pelo PCP em 29 de Agosto, para a audição do governador do Banco de Portugal e do presidente da Autoridade da Concorrência sobre a prescrição das coimas aos bancos no âmbito da cartelização da banca; um segundo, entregue pelo Partido Socialista no dia 5 de Setembro. É certo que, além daquelas entidades que também quer ouvir, o PS requer igualmente a audição da Associação Portuguesa de Bancos e das instituições bancárias envolvidas – e lá saberá porquê… –, mas estranha-se o enfoque das notícias de ontem, dia...

Ultimam-se os preparativos para a partida, às 09:30, da 36.ª Corrida da Festa do "Avante!", uma extraordinária manifestação do espírito de fraternidade e de solidariedade dentro da competição desportiva e uma expressão - mais uma! - das inúmeras contribuições do PCP para a valorização da prática física e desportiva, especialmente nas autarquias CDU, mas também na Assembleia da República. A iniciativa, com mais de 1 400 inscritos, promete ser inesquecível.

Vão sendo horas de recolher para descanso, que o dia, gratificante mas exigente, reclama recuperação de forças e o de amanhã será igualmente exigente. Da jornada que está a terminar, destaco, nesta noite, um importante debate (declaração de interesses: fui um dos oradores) sobre "Segurança Social em perigo. Combater mistificações e mentiras". O debate denunciou os ataques da direita ao sistema público, solidário e intergeracional, a manutenção do modelo de salários e pensões baixos e a operação neoliberal em marcha para apoucar os idosos e transformar a terceira idade em terceira reserva de força de trabalho, prolongando brutalmente a vida activa dos maiores de 65 anos. De resto, a noite da Festa estava rija, divertida, culta e fraterna. Até amanhã.

Continua a decorrer a bom ritmo, e aos ritmos que cada um entende e aprecia, a 49.ª edição da Festa do "Avante!". Ainda há quem almoce, há quem se refresquem e conviva pelas sombras, quem aprecie  a música dos espectáculos, escute o que se diz nos debates, escolha livros e discos, aprecie as múltiplas exposições, participe em actividades desportivas e em jogos tradicionais. Ou simplesmente desfrute desta imensa e generosa camaradagem e desta alegria incancelável.

Estão a decorrer o concerto inaugural, evocativo do 80.º aniversário da derrota do nazi-fascismo, e outras manifestações artísticas e culturais e políticas, encaminhando-se, já noite adiantada, para o fim o primeiro dia da Festa do "Avante!" Da tarde, assinala-se a abertura, com a visita do secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, das exposições, no Espaço Central - uma dedicada aos direitos constitucionais; outra sobre os Tapetes de Arraiolos.

Está prestes a abrir a Festa do "Avante". No Espaço Central, uma exposição sobre a Constituição da República Portuguesa lembra aos mais velhos e apela aos mais novos para o significado dos direitos conquistados.

Abre dentro de poucas horas, na Quita da Atalaia, Amora, Seixal, a 49.ª Festa do "Avante!" - um enorme, único e inimitável acontecimento político, cultural, desportivo e etc., ao qual "todos são bem-vindos", como bem enfatiza a manchete do último número do semanário mais antigo do país e o jornal que mais tempo resistiu editado na clandestinidade em todo o mundo. É a incancelável Festa do "Avante!" e é a Festa do PCP e dos comunistas, mas é também a Festa para todos, cujo programa vastíssimo mostra bem a extraordinária dimensão, a indiscutível universalidade e o enorme alcance desta iniciativa central.     

Amanhã, depois de amanhã e no domingo, não estarei cancelado da participação na Festa do "Avante!" e não aceito que tentem recriminar quem nela vai participar. Aproveito para notar que esta importantíssima e enorme realização é bem anterior ao surgimento desse modismo mediático chamado "rentrée política", no que esta expressão representa de uma certa trivialização da política . Isto em nada prejudica nem diminui o sentimento de enorme consternação nem a solidariedade devida às vítimas, familiares e amigos do acidente do elevador da Glória, em Lisboa.