Sobre um lanço de escadas


Fixem esta data: 8 de Março de 1962. Neste dia, já lá vão mais de 57 anos, Maria José Ribeiro, resistente antifascista, foi presa pela PIDE, salvo erro, pela segunda vez.

O caso tinha sido grave: sendo o Dia da Mulher, coisa já de si suficientemente subversiva, andava com outras democratas na Praça da Liberdade a distribuir panfletos sobre a condição das mulheres e sobretudo no quadro da guerra colonial.

Agora fixem esta data — a de hoje — e este despretencioso instantâneo fotográfico. Conheço a Maria José há anos, já a entrevistei e já lhe ouvi em tertúlias e em conversas em circunstâncias diversas, histórias extraordinárias de resistência, mas nunca me fora proporcionada a experiência de descer com ela e ouvi-la falar, no local, daquele dia em que foi brutalmente empurrada por este lanço de escada, espancada e enfiada numa masmorra da PIDE.

Aconteceu hoje, na visita de trabalho que candidatos da CDU fizeram, nesta manhã, às instalações da ex-PIDE no Porto, onde a União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) desenvolve um notável projecto de preservação e interpretação da memória e da resistência, que o PCP propõe seja consagrado como Museu da Resistência.

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