Despedimentos e precarização

Constou-me que vai por aí uma crítica - obviamente injusta - à qualidade e ao valor dos  jornalistas em situação precária que ficam a "colaborar" com pelo menos o "Jornal de Notícias" e o "Diário de Notícias", em substituição de camaradas abrangidos pelo brutal despedimento colectivo desencadeado pela Controlinveste.
Não a li, e conheço-a apenas de ma contarem. Mas tenho de acorrer já a testemunhar o valor e a qualidade de todos eles, que se distinguem apenas pela pesada e injusta circunstância de, sendo jornalistas como os demais, trabalharem tantas vezes muitas horas sem qualquer reconhecimento ou retribuição, sem os mesmos direitos e com remunerações mais baixas.
Os camaradas nessas condições merecem-nos toda a consideração, respeito profissional e solidariedade - sempre. Por isso, também devo esclarecer que as declarações que eu próprio fiz, as posições assumidas pelo Sindicato dos Jornalistas e a moção aprovada nos plenários de jornalistas na Controlinveste sobre tais situações têm de ser entendidas no sentido de uma preocupação profunda com todos.
Quando se afirma que não podemos aceitar a substituição de profissionais por colaboradores, nem a precarização ainda maior dos profissionais (dos despedidos e de outros), não se pretende apoucar ninguém, muito pelo contrário.
O que as empresas têm feito com os despedimentos é tornar ainda mais extensa e mais frágil a rede de jornalistas que são de facto profissionais mas que se encontram - ou passam a estar - numa situação de precariedade. Se defendemos que deve ser corrigida a precariedade, não aceitamos que se agrave.
Um desafio fundamental que enfrentamos todos é o de saber resistir à tentação de nos lançarmos uns contra os outros, numa luta fratricida que só aproveita aos patrões. O truque é muito velho, mas não deixaremos que nos dividam.


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