Uma esparrela jornalística e uma profecia

Antes que o ano termine, três notas sobre o escândalo, digamos, jornalístico, das entrevistas dadas pelo falso quadro do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Duarte Baptista da Silva:
  1. Não vale a pena armar aos heróis da integridade ética e deontológica do jornalismo. Muitos de nós cairíamos na esparrela em que caíram Nicolau Santos e outros jornalistas. Mas não tenho a certeza de que todos teriam a mesma coragem e a mesma elevação para cumprir honradamente o preceito (5.º) do Código Deontológico que manda assumir a responsabilidade por todos os actos profissionais e promover a pronta rectificação das informações que se revelem falsas. Daqui, pois, o meu abraço solidário.
  2. A extensa nota da Direcção do "Expresso" e em particular as explicações aos leitores e a assumpção do compromisso de reforçar os mecanismos de verificação devem ser relevadas como exemplo a seguir. Oxalá façamos todos o mesmo em relação a muita charlatanice, tantas vezes travestida de "estudo", que vai chegando às redacções, para dar só uma pista de ausência de escrutínio prévio; ou em relação a muita afirmação catedrática que campeia em alguns artigos de pessoas cujos títulos académicos e carreiras verdadeiros consideramos suficiente para credibilizar asneiras e embustes. Adiante...
  3. É pena que tanta energia e tanto tempo e tanta tinta se tenha gasto a desmontar, explicar, contar, recontar o embuste do impostor. Centrou-se nisso um esforço tal que mais parece que se quis sepultar no escandalote da mentira que a personagem representa umas quantas verdades que o senhor disse com o desassombro e a crueza que deviam ter sido ditas. Para elas chamei, na devida altura, a atenção dos meus leitores e hoje não me arrependo. Justamente no final de um ano desgraçado e às portas de outro pior, receio que sejam uma bizarra profecia. Serão? 
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