A revelação "off", os desmentidos "on" e a completa falta de decência à vista de todos


A história já vai longa e era bem conhecida: "uma fonte" do Governo anunciou, em off, a jornalistas cortes nas pensões e em salários, que o Governo veio desmentir em on, sem que algum dos que falou depois tenha dado garantias absolutamente cabais de que tal não acontecerá. Pelo visto, nem podia.
Esta manhã, os portugueses acordaram com a notícia do "Público" dando conta de que afinal haverá mesmo cortes nas pensões, precisamente porque o seu valor será estabelecido em função da situação económica e da demografia (especialmente a relação trabalhadores activos e idosos dependentes).
A coisa parece séria, pois consta de documento da Comissão Europeia a que o jornal (e,depois, pelo menos a RTP) teve acesso. Embora uma fonte (presume-se que a assessoria de Imprensa) do Ministério das Finanças tenha vindo dizer (nomeadamente na SIC) que nada está aprovado, o primeiro-primeiro-ministro dissesse, literalmente a fugir dos jornalistas, que "as notícias de hoje não têm novidade" e o vice-primeiro-ministro garantisse, também em fuga, que "não há contradições".
O espectáculo, demasiado grotesto, releva não apenas da forma como o Governo gere a informação sobre estas coisas. Como essa forma é menos trapalhona do que terrorista, pois o propósito - ou pelo menos o efeito - é ir deixando as pessoas em pânico e preparadas para o pior, releva essencialmente da completa falta de decência, escrúpulo e respeito pelos cidadãos. E esta está bem à vista.
.    

Mensagens populares deste blogue

Jornalismo: 43 anos e depois

O serviço público de televisão e a destruição da barragem de Kakhovka: mais rigor, s.f.f.

O caso Rubiales/Jenni Hermoso: Era simples, não é?