Debates, comentários e pluralismo. Descubra as diferenças


Assistindo ao “Jornal da Tarde” da RTP 1 e vendo e escutando o relato sobre “o último frente-a-frente”, transmitido em simultâneo pela RDP, pela RR e pela TSF, dei comigo a matutar no problema que mais esta emissão radiofónica conjunta – tal como o “debate histórico” nas televisões de há dias – evidencia, e que parece não afligir os directores de informação: a questão da diversidade informativa.
E estava-me interrogando sobre que reflexões farão eles – assim como os conselhos de redação – sobre a noção, o alcance, as implicações e as consequências em termos de pluralismo (aqui, na sua dimensão externa) da realização e transmissão conjunta e simultânea de debates, quando a abordagem do assunto transitou para a “reportagem” directa no exterior.
Desta feita, tratava-se de saber, anunciava-se, “quem ganhou o debate”. E logo o repórter anunciou o depoimento de “dois pesos-pesados da política” (cito de memória), nada mais, nada menos do que Marques Mendes e António Vitorino.
Logo nos instantes seguintes (a avaliar pela “muleta” introdutória do repórter, que confessa, entre a ironia e o constrangimento, recear “não ser original”), idêntico directo da SIC, no mesmo local e – surpresa!!! – com os mesmos “comentadores”, nada mais, nada menos do que Marques Mendes e António Vitorino.
Honra seja feita à TVI, que pôs a editora de política da casa, Constança Cunha e Sá, a comentar o “duelo” e a quebrar um bocadinho a regra da informação siamesa que acomete televisões e rádios – logo elas que reclamaram a plenos pulmões o primado da autonomia e da liberdade editoriais.
Seria interessante ver alguém discutir e explicar as razões, fundamentos, objectivos e resultados deste modelo (jornalístico?!...) “um em três”, que consiste em colocar em três canais os mesmos protagonistas no mesmíssimo instante. E o que ganhou o público em pluralismo.
Já para não falar da ausência absoluta ausência de debate plural e do facto de, com tal modelo, as três televisões e as três rádios terem contribuído activamente para alimentar e legitimar a bipolarização da discussão político-partidária e para continuar a sustentar a falsa e antidemocrática ideia de que só há duas escolhas possíveis.
Nada acontece por acaso.  
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