Marcelo selfiza e a rapaziada publica

Consta dos velhos manuais do jornalismo que o jornalista não deve ser notícia, a não ser por alguma razão extraordinária. Os tempos modernos, de relativização de regras e até de princípios que pareciam correctos, contrariam essa ideia, banalizando holofotes sobre estes profissionais, chamados a fruir o festim de frivolidades em que o campo do jornalismo se tornou pródigo.
Vem isto a propósito do "caso" da abordagem do Presidente da República, anteontem, a uma jovem em início de profissão no distrito de Coimbra, cujos frescos 21 anos terão inspirado Marcelo Rebelo de Sousa a dar "uma lição sobre as dificuldades de ser jornalista", não a poupando a um laracha sobre a sua aprestação. De seguida, selfizou-se com a jovem, ou selfizou-a para a sua coleçção de troféus de popularidade digital. 
Por muito boa conta que seja a conta em Marcelo Rebelo de Sousa tem o sentido de dessacralização da função e da sua peculiar "presidência dos afectos", o caso remete-nos faz-nos reflectir sobre a eventual necessidade de um conveniente distanciamento entre o Presidente e os repórteres que o acompanham, evitando gestos que vão para além da cortesia.
Mas também remete para a discussão da noção de notícia que preside às decisões de narrar e, sobretudo, de difundir "notícias" como esta. Talvez seja demasiado fácil opinar, de fora, sobre qual seria a atitude mais correcta - porventura baixar e retirar de cena microfones e câmaras, gravadores e blocos-notas, sinalizando o desinteresse (e a discordância...) pela construção de frivolidades em que Marcelo também assenta a sua popularidade - mas não parece que tenha sido um momento simpático para a jovem e para o jornalismo.












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