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A mostrar mensagens de janeiro, 2017

Títulos de risco

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Por estes dias, os meios de informação afadigam-se com o justo debate sobre a inaceitável descida da Taxa Social Única (TSU) a cargo dos empregadores, oferecida pelo Governo aos patrões como contrapartida pela aceitação de um escandalosamente parco aumento do Salário Mínimo Nacional, e que deverá ser revertida amanhã na Assembleia da República. O tom dos media sobre o assunto cavalga a onda da dramatização – se o Governo tem ou não “plano B” para o chumbo parlamentar, que o primeiro-ministro garante aos patrões que honrará o compromisso, que os patrões pressionam António Costa, que o Governo e os patrões estão «reféns dos partidos», que o PS acusa o PSD de chantagem – à qual não falta a linguagem bélica: «Esquerda abre fogo da TSU sobre Costa e este dispara contra Passos» [1] … Basta ler os títulos dos jornais ou das televisões, por vezes ideologicamente armadilhados. Um deles – “Descida da TSU em risco» –, repetido dias a fio pela SIC Notícias e pela SIC generalista,

Um precioso relato do Congresso dos Jornalistas

A ler, a ler mesmo com olhos de ler, este precioso relato do João Ramos de Almeida sobre o último dia do 4.º Congresso dos Jornalistas Portugueses, que muito agradeço mas acerca do qual tenho de fazer quatro observações: 1.ª - Qualquer jornalista minimamente conhecedor do "grupo ligado ao PCP" saberia identificar os seus membros entre os autores das cinco dezenas de propostas submetidas a votação. Se o director citado pelo João tivesse tido o cuidado elementar de ler todos os nomes dos autores, jamais teria  afirmado que tal "grupo" "insuflou o número de propostas". 2.ª - Se se tivesse dado ao trabalho de consultar as propostas, tal director teria concluído que várias delas foram fundidas por acção ou com a intervenção dos tais congressistas "ligados ao PCP", para maior economia de tempo e eficácia da sessão. 3.ª - Se quem anda a propalar a ideia de que o tal "grupo" do Mafarrico quis "impedir que a sessão dos patrõ

Obrigado, Pedro Tadeu

No seu artigo de opinião de hoje, no "Diário de Notícias" , o meu camarada  Pedro Tadeu  dedica-me palavras simpáticas, que sei sinceras e que muito agradeço, mas que devem ser dirigidas ao extraordinário colectivo, constituído pelas várias direcções (além dos restantes órgãos do Sindicato dos Jornalistas) que integrei e das quais fui porta-voz. Aproveito para saudar a participação do  Pedro Tadeu , traduzida designadamente em duas propostas - uma, para a promoção da literacia dos  media nos ensinos básicos e secundário; outra, com vista à consagração de um mecanismo (voluntário) de declaração de interesses dos jornalistas. Votei a favor da primeira, que foi aliás aprovada, e votei contra a segunda, de resto rejeitada.   Porém, gostaria muito que a segunda, como aliás muitas das demais cinco dezenas de propostas entradas na Mesa até pouco antes do início dos trabalhos da sessão de "apresentação, discussão e votação" tivesse sido efectivamente discutida.  N

Amores de proximidade conveniente

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Rua de S. José, Lisboa, Janeiro de 2016

Em defesa do Conselho Deontológico

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IV Congresso dos Jornalistas Portugueses SESSÃO 3 REGULAÇÃO, ÉTICA E DEONTOLOGIA Em defesa do Conselho Deontológico (Subsídios para o esclarecimento de alguns equívocos) Em memória de Oscar Mascarenhas ALFREDO MAIA (CP N.º 684) SÍNTESE O Conselho Deontológico é o órgão da classe cuja experiência, prestígio e património de reflexão são reconhecidos dentro e fora da classe, designadamente para efeito de apreciação de queixas e pronunciar-se sobre a conduta do universo dos jornalistas, como os tribunais reconhecem. A criação de uma ordem hipotecaria a liberdade de associação e a independência dos jornalistas face ao poder político. Recomenda-se toda a prudência na eventual revisão do regime de incompatibilidades, sob pena de restringir direitos fundamentais. * *  * 1. Chegados a este Congresso, é de toda a conveniência passar em revista alguns conceitos e realidades que, à custa de tanto treslidas e postergadas, podem parecer bizarros. É assi

Jornalismo, profissão de acesso aberto

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IV Congresso dos Jornalistas Portugueses SESSÃO 2 ENSINO, ACESSO À PROFISSÃO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL Em defesa do acesso aberto e à profissão e do Jornalismo qualificado e livre ALFREDO MAIA (CP N.º 684) SÍNTESE O perfil de jovem jornalista pretendido por muitas empresas insere-se na deriva tecnológica na indústria da informação que tende a privilegiar a futilidade em detrimento do espírito crítico. Não está em causa a liberdade de ensinar e de aprender, mas é necessário travar a pressão dos estágios curriculares e dos estágios profissionais. Não pode haver dúvidas: o estágio de acesso à profissão corresponde à primeira fase da carreira profissional. E o acesso à profissão deve continuar a ser aberto. * *  * 1. Comecemos pelo princípio. Quem detém o poder para decidir quem entra, quem sai e quem se mantém na profissão? Na realidade, são as empresas quem decide tudo isso. E também quem determina os perfis profissional a recrutar e a manter. Cul

Assalto à última trincheira da liberdade?

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Será útil assentarmos desde já no seguinte: os jornalistas são trabalhadores por conta de outrem, assalariados mais ou menos precários mas geralmente subordinados a uma hierarquia que o patrão estabeleceu, escolheu e mantém enquanto merecer a sua confiança. As excepções são estatisticamente negligenciáveis para o que agora importa discutir. Pelo menos formalmente, os jornalistas gozam das garantias constitucionais da liberdade de expressão, da liberdade de imprensa e do pluralismo. Mas as liberdades estão de algum modo limitadas pelos estatutos editoriais dos órgãos de informação aos quais eles prestam serviço, pelas orientações e pela disciplina editorial determinada pelas respectivas hierarquias editoriais – essas mesmas, as escolhidas pelos donos através de um sistema de delegação de confiança em cascata: os accionistas escolhem os directores; os directores escolhem os chefes de redacção, os editores de secção… Ao contrário do que muitos leitores, ouvintes e espectadore