Um precioso relato do Congresso dos Jornalistas


A ler, a ler mesmo com olhos de ler, este precioso relato do João Ramos de Almeida sobre o último dia do 4.º Congresso dos Jornalistas Portugueses, que muito agradeço mas acerca do qual tenho de fazer quatro observações:


1.ª - Qualquer jornalista minimamente conhecedor do "grupo ligado ao PCP" saberia identificar os seus membros entre os autores das cinco dezenas de propostas submetidas a votação. Se o director citado pelo João tivesse tido o cuidado elementar de ler todos os nomes dos autores, jamais teria afirmado que tal "grupo" "insuflou o número de propostas".
2.ª - Se se tivesse dado ao trabalho de consultar as propostas, tal director teria concluído que várias delas foram fundidas por acção ou com a intervenção dos tais congressistas "ligados ao PCP", para maior economia de tempo e eficácia da sessão.
3.ª - Se quem anda a propalar a ideia de que o tal "grupo" do Mafarrico quis "impedir que a sessão dos patrões se realizasse" se desse ao trabalho de indagações elementares, teria ficado a saber que, precisamente para permitir que o programa do último dia fosse cumprido sem incidentes desagradáveis para terceiros (a saber, os convidados), pelo menos um elemento do referido "grupo" fez chegar atempadamente (na véspera) à organização uma proposta metodológica que minimizaria os riscos de um programa que, desastradamente, concedia apenas três horas para "apresentação, discussão e votação" de dezenas de propostas e de uma resolução final por mais de duas centenas de congressistas ainda presentes, antes de uma sessão de encerramento que teria de começar às 17h30.
4.ª - Face à tentativa de precipitar a votação das propostas sem adequada apresentação (a maioria dos presentes não conhecia os textos integrais e a síntese distribuída era insuficiente para apreender o conteúdo e o alcance das mesmas) e muito menos sem discussão, é evidente que o imperativo da democraticidade da tomada de decisões impunha a firmeza que o grupo e muitos camaradas congressistas afirmaram, ao exigir que a sessão prosseguisse até ter esgotado o seu objecto. Infelizmente, nem assim se logrou o mínimo de condições para uma discussão informada e consciente.
Foi pena. 
Por isso é justo e acertado o relato do João.


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