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A mostrar mensagens de março, 2016

Atentados e estados de ocultação e de excepção

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Há quem alvitre que seria preferível os Media nada relatarem sobre os atentados terroristas, pois, desse modo, argumentam, os seus autores não veriam os efeitos dos seus actos e tenderiam a desistir. Embora saiba que nomeadamente o auto-proclamado Estado Islâmico pretende obter um efeito apocalíptico das suas acções, e que tal objectivo deve ser ponderado seriamente, não me parece que tal regime de ocultação seja possível nem aceitável. Não é possível não apenas porque os Media não o aceitariam – por todas as razões, incluindo as boas –, mas também porque a massificação e a democratização do acesso ao espaço público tornaram incontornáveis as possibilidades de divulgar, mesmo em tempo real, imagens e outros informações sobre os acontecimentos. Por muitos, variados e pequenos ou grandes que sejam os erros cometidos pelos Media (eu pecador me confesso), não podemos desvalorizar a função central de escrutínio do poder e do exercício dos poderes – legislativo, executivo e j

A verdadeira "cacha" da "Sábado" e da "Visão"

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Numa coincidência que talvez possam explicar, as revistas "Sábado" e "Visão" deram as respectivas capas desta semana a um relevantíssimo assunto: os clubes privados, na preferência de uma, e de elite, na escolha de outra. Com diferenças de estilo e de qualidade literária, a abordagem é semelhante, "revelando" quem é membro, quem pode ser membro, que são clubes exclusivos de cavalheiros de bem e de poder, etc., etc., etc... A verdadeira revelação, porém, a excitante "cacha" do século da parelha de news magazines lusas, está na copiosa lista de nobres (nobres sem aspas nem hesitação) que brota daquelas páginas - condes, duques e marqueses, em quantidades e em ressonâncias de apelidos e de domínios tais, de fazer pender de pasmo o queixo do jacobino mais empedernido e de fender em angustiante dúvida as convicções do republicano mais firme.  Afinal, 115 anos depois da República, eles existem.

E se pudéssemos escutar Johana Tablada?

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Johana Tablada interrogada por João Adelino de Faria Só há alguns minutos pude ver, "rebobinando-o", o programa informativo "360º" da RTP3 de segunda-feira passada, no qual participou a embaixadora de Cuba em Lisboa, Johana Tablada. Faço desde já quatro ressalvas, ou declarações de interesses: 1.ª - Tenho uma consideração pessoal pelo meu camarada de profissão João Adelino de Faria, por razões que não vêm agora ao caso, e também profissional, embora várias vezes discorde do modo como conduz as suas entrevistas e muitas outras dos seus textos de opinião na imprensa. 2.ª - Tenho uma grande admiração pela Revolução cubana e pelo homérico esforço e pelo denodado sacrifício com que o povo e o governo cubanos têm resistido mais de meio século a um violento e injusto bloqueio imposto pelos Estados Unidos da América, ao qual a generalidade dos países ocidentais não teve, durante décadas, a decência de opor-se activamente. 3.ª - Em Novembro de 1999, tive oca

Serviço giro de televisão

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O "Jornal das 12" na RTP3 de hoje termina com uma cantiga de sátira ideológica ilustrada com fotografias com Lula da Silva e Dilma Rousseff em vários situações.  A apresentadora fecha o serviço com um sorriso matreiro e a tirada "Foi um sambinha para animar"... Alguém me sabe dizer em que manual de independência, de rigor e de seriedade jornalísticos é que esta "bucha" (gira?) consta?

Marcelo católico, Presidente da República laico

O cidadão Marcelo Rebelo de Sousa pode muito bem comportar-se como entender em matéria de convicções, rituais e salamaleques religiosos. Mas já me parece muito mal que o Presidente da República ande a lambuzar os anéis cardinalício (recorde-se, por exemplo, a apresentação de cumprimentos dos convidados na posse) e papal (hoje no Vaticano). Seja bispo, cardeal, papa, seja o que for, o PR deve limitar-se ao aperto-de-mão da convenção universal e digno da República laica que somos.

Congressos comparados

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À atenção dos repórteres de política e dos comentadores e editorialistas: sugestão de leitura do brevíssimo, mas muito claro e útil, guião comparado de preparação de congressos partidários, publicado por Margarida Botelho no "Avante!" de hoje.

Assim vai o Mundo

Mundo, 13 de Março 1. Um atentado em Ancara com mais de 30 mortos dá um excelente argumento ao governo turco para atacar as milícias curdas e agravar as medidas repressivas no país e desvia as atenções das manobras de expansão em território sírio. 2. Na véspera do reinício das negociações entre delegações do governo e da oposição sírios, um dirigente rebelde deixou muito claro que a transição só será possível com o presidente Bashar al-Assad afastado – vivo ou morto. Os Estado s Unidos não reagiram a esta exigência: apenas a afirmação, ontem, do ministro sírio dos Negócios Estrangeiros, de que a manutenção do presidente é uma “linha vermelha” inegociável, os perturbou. 3. A grande imprensa acarinha as manifestações pela destituição da presidente do Brasil, Dilma Rousseff, construindo a imagem de que se trata da palavra derradeira do povo. Como se não fossem os grupos de Media e os grandes interesses económicos a patrocinar a contestação.   4. O partido anti-imigração Alternati

O Saraiva da CIP e o cinismo de classe

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A entrevista que o presidente da CIP concedeu ao “Diário Económico” e à RDP/Antena1 é digna de um seminário inteiro, começando e acabando no seu conteúdo* ou começando e acabando no poder que os dirigentes patronais e os economistas de direita exercem efectivamente nos Media. Fiquemo-nos pelo título principal (nas páginas interiores: "Mais vale ter trabalho precário do que desemprego"): Perguntado sobre se “não há demasiado trabalho prec ário nas empresas”, António Saraiva, figura com lugar cativo no sistema mediático tão dependente dessas figuras, responde: “Admito que sim, mas mais vale ter trabalho precário do que desemprego. Numa situação como aquela em que está a economia, prefiro ter um contrato a termo, com regras e respeito pelo ser humano, do que ter mais um desempregado”. Dita assim, a resposta parece em condições de colher algum consenso. Esmiuçada, contudo, expõe a enorme e dramática extensão do cinismo de classe. Como se esta gente pudesse ser ex

Não é por acaso que o PCP completa hoje 95 anos de existência

"Nove décadas e meia que nos separam e olhando para o percurso percorrido vemos um Partido com uma história notável, uma trajectória sem paralelo em defesa da liberdade, da democracia, por um projecto de futuro, ligando gerações de intrépidos combatentes, travando pequenas e grandes lutas e sempre presente nos momentos decisivos da vida do nosso País." Jerónimo de Sousa, no Comício comemorativo do 95.º aniversário do Partido Comunista Português, fundado em 6 de Março de 1921 .

Uma questão de classe

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Esta noite, Jorge Braga de Macedo, economista do PSD e ex-ministro das Finanças, discorreu na RTP3 sobre "sindicalismo mau e sindicalismo bom", declarando que a CGTP representa o "sindicalismo mau" e a UGT o "sindicalismo moderno" porque, argumentava, "não põe a questão de classe".  Ora estão a ver como o senhor Professor sabe qual é o ponto?...