Jornalismo em linha recta
Breve
notícia da mesa-redonda “Uma conversa sobre a Imprensa de hoje e de sempre”,
ontem, organizada pela Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da
Universidade do Porto (AEFLP), na qual participei com muito prazer e enorme
proveito, acamaradando com o Júlio Roldão e o Hélder Bastos.
Em
nota prévia à minha intervenção inicial, deixei um reparo
fraterno em relação ao modelo de debate, que eu receava propor a discussão a
partir de visões e de mundividências geracionalmente estratificadas – um, representaria
o passado; outro, o presente; e o terceiro, o futuro.
Por
um lado, chamando a atenção para o gravíssimo problema (e o superlativo não é
abusivo…) da erosão das redacções, observei que, nas actuais condições, os
jornalistas “do presente” só continuarão a sê-lo enquanto os patrões quiserem.
Por
outro, defendi que, não obstante as distorções e hiatos na pirâmide etária das
redacções, é necessário reconhecer um processo contínuo (uma linha recta que
nos conduz ao infinito e não uma sucessão de segmentos de recta) de aquisição individual
e colectiva de competências, de transformações tecnológicas e de práticas profissionais.
Quanto
aos tópicos para reflexão e debate, comecei pelos problemas da precariedades
(nas suas várias expressões), da concentração da propriedade dos meios de
comunicação social e também da natureza de classe da propriedade, da
secundarização da qualidade, dos riscos da simplificação e da superficialidade,
da erosão da memória nas redacções e da tentação da frivolidade e do jornalismo
“giro”.
Depois,
alertei para os problemas:
- da escassez
de meios humanos, tempo e espaço para o aprofundamento de notícias e reportagens,
especialmente em consequência da redução de profissionais nas redacções;
- do consequente
retrocesso no percurso de especialização
(pelo menos tendencial…) dos jornalistas, com o regresso ao paradigma do
jornalista polivalente e especialista em generalidades; e
tendo
em conta as actuais condições de produção, os ritmos, intensidade e duração das
jornadas de trabalho,
- da
escassez de tempo para a leitura, o estudo e a reflexão, tarefas que nenhum
jornalista pode descurar ao longo da sua vida.