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A mostrar mensagens de abril, 2016

A tentação dos nomes e a justa auto-contenção jornalística

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Tenho para mim – e repeti-o inúmeras vezes, nas ocasiões em que tive oportunidade de falar sobre estes assuntos, incluindo a estudantes de Jornalismo/Ciências da Comunicação – que as notícias geram sempre algum efeito na vida de alguém e que isso deve manter-nos em permanente alerta, lançando mão de regras de justa auto-contenção. A identificação de pessoas e a imputação de certas condutas – incluindo as que justificam censura social – não podem resultar de um mero impulso “de informar”. Porque o nosso dever de informar implica uma responsabilidade muito séria e escrupulosa, exige-se-nos a ponderação não só do real interesse público nesta ou naquela revelação, mas também dos riscos de expor injustamente quem quer que seja no pelourinho mediático. Como bem explica o director do “Expresso”, numa nota editorial publicada anteontem na versão em linha e, com menor densidade, no post scriputum na sua coluna de hoje no jornal impresso, a publicação de nomes, seja de quem for, exige

Brasil, o argumentário dos golpistas

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Estou a assistir à transmissão, em directo, ao penoso cortejo de declarações de voto dos 513 eleitos da Câmara dos Deputados sobre a eventual destituição da Presidente da República. Os deputados da Direita golpista, que votam SIM, invocam Deus, a família – às vezes inteira, até uma tal Manuela que vai nascer –, os amigos e os queridos estados onde foram eleitos, muitos deles acumulados em volta do microfone através do qual todos os eleitos se pronunciam, numa turba frequentes vezes ululante até à arruaça. Os da Esquerda resistente, que votam NÃO, invocam os progressos extraordinários alcançados (na educação, na saúde, na distribuição da riqueza), a Constituição, a democracia e a vontade popular expressa nas eleições, ao mesmo tempo que denunciam o golpe orquestrado pelo presidente do parlamento e pelo vice-presidente da República. O argumentário e a atitude da Direita golpista são esclarecedores do que espera o Brasil se o SIM ganhar e se não for travado no Senado.      

Jornalismo em linha recta

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Breve notícia da mesa-redonda “Uma conversa sobre a Imprensa de hoje e de sempre”, ontem, organizada pela Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (AEFLP), na qual participei com muito prazer e enorme proveito, acamaradando com o Júlio Roldão e o Hélder Bastos. Em nota prévia à minha intervenção inicial, deixei um reparo fraterno em relação ao modelo de debate, que eu receava propor a discussão a partir de visões e de mundividências geracionalmente estratificadas – um, representaria o passado; outro, o presente; e o terceiro, o futuro. Por um lado, chamando a atenção para o gravíssimo problema (e o superlativo não é abusivo…) da erosão das redacções, observei que, nas actuais condições, os jornalistas “do presente” só continuarão a sê-lo enquanto os patrões quiserem. Por outro, defendi que, não obstante as distorções e hiatos na pirâmide etária das redacções, é necessário reconhecer um processo contínuo (uma linha recta que nos conduz ao infini

De cedência em cedência

Salta à vista que o terrorismo é um excelente pretexto para apertar cada vez mais o garrote aos direitos fundamentais dos cidadãos e para justificar o seguimento milimétrico dos seus passos. E não, não me venham com a desculpa de que "quem não deve não teme". É com estas e com outras que sobra cada vez menos espaço para a nossa privacidade e até para a nossa intimidade. E a malta vai cedendo, cedendo... 

Marcelo TV

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Suponho que este recorte poderá vir a ser útil. É da edição do "Expresso" de 22 de Janeiro de 2016

"E se fosse eu"… a tomar decisões?

Já se vê que Joana Vasconcelos se pôs a jeito com o depoimento parvo por causa do qual está a ser zurzida nas redes sociais. No entanto, seria interessante problematizar a campanha de comunicação “E se fosse eu”, na qual pessoas conhecidas do grande público – incluindo o Presidente da República – enunciam, em vídeos divulgados pela RTP durante o dia de ontem, os objectos que colocariam na sua mochila de refugiados de faz-de-conta. A acção inseriu-se na iniciativa mais vasta “E se fosse eu? Fazer a mochila e partir” ( www.esefosseeu.pt ), incluindo nas escolas, que “lançou o desafio para que, por um dia, todos nos colocássemos no lugar de um refugiado e pensássemos naquilo que levaríamos connosco se tivéssemos de partir”. Pretendendo contribuir para um melhor acolhimento dos refugiados, especialmente junto das crianças, a iniciativa centrou-se na problemática do refugiado, procurando gerar “empatia com quem foge da guerra”, entre outros objectivos . Ora, para não correr o risc

A condenação da condenação em Angola

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Talvez volte ao assunto, mas, estando a arrumar recortes de jornais, não posso deixar de falar já nestes, de sexta-feira passada, com as notícias dos nossos quotidianos generalistas sobre os votos sobre a decisão do tribunal de Luanda no chamado caso dos "activistas" angolanos, propostos pelo PS pelo BE na Assembleia da República e rejeitados por maioria. Independentemente do que aqui poderia escrever sobre o assunto que as justifica, devo anotar que estas notícias dariam pan o para mangas numa discussão sobre a mitificada imparcialidade dos Media e sobre o preconceito em relação ao PCP. Para adiantar razões, chamo desde já a atenção para um facto incontornável: o PCP é o único dos três dos partidos que chumbaram aqueles votos cuja posição é tratada com destaque, enquanto a do PSD é resumida a uma explicação sumária e a do CDS parece não merecer qualquer esforço escrutinatório. Há coisas estranhas, não há?

No 40.º aniversário da Constituição da República, o partido do costume

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Estou a pensar no exemplar da 1.ª edição da Constituição da República Portuguesa, promulgada há 40 anos (completam-se hoje), que possuo na minha modesta biblioteca. Muito para além de mera peça com elevado interesse para o bibliófilo que não sou, este exemplar da CRP tem-me servido para mostrar preto no branco como foi possível, há quatro décadas e no complexo quadro - em muitos aspectos contra-revolucionário - de então, alcançar uma Lei Fundamental tão progressista. Penso necessariamente nisso, hoje e a esta hora, passando em revista a actualidade do dia e procurando informar-me sobre o modo como os partidos - todos os partidos - assinalaram a efeméride. E penso necessariamente nisso ao concluir que só um, apenas um e o do costume , o fez. E que alguma razão séria, profunda e consequente haverá para que tenha sido assim.